14 de nov. de 2011

Titicaca, um mestre


O Titicaca encanta e desconcerta. Viver sobre um chão de totora trançada sob um lago de 200 metros de profundidade não é pra qualquer espírito. É preciso desapego e amor pelas águas e por Mamma Kotta, a mamma del lago, a divindade que os protege, naquela imensidão de água doce. Os povos do lago sabem disso.
- Nossos avós já sabiam que há muitos mistérios em Uros e que não se pode viver ali. Por isso agradecemos a Mamma Kotta, pedimos proteção e permissão para viver nela. Temos muito respeito por Mamma Kotta.

Assim fala Rita, uma moça linda de olhos negros e brilhantes, sorriso aberto e com muitas histórias pra contar, tal como seus avós, os contadores de histórias do seu povo. Ela veio a mim como um presente da deusa. Rita é uma das moradoras das ilhas flutuantes de Uros. Na sua comunidade, Chantati, vivem seis famílias. Ela ocupa a função de regidora, a representante das mulheres de Uros.

Rita fala com entusiasmo da sua casa, as plataformas de junco do Titicaca, onde nasceu e pretende ficar. Como está acostumada com o pisar macio da esteira flutuante, andar na terra lhe cansa muito. Contou que numa ocasião foi visitar Taquile, outra ilha do lago, porém de terra e, que após atravessar dois montes já não tinha forças. Estranhou o lugar e tinha necessidade de ver a água de perto e tocar as totoras, o junco que lhes serve de chão, matéria prima da casa e dos barcos que os conduzem a outros sítios, nessa região inóspita e de ar rarefeito, a quase 4.000 metros acima do nível do mar. Saudade de tocar a totora, sua comida e combustível pro fogo.

- O lago nos dá força e energia. Eu não poderia viver na terra. Para mim é uma graça, meus pais terem me dado à luz em meio ao lago. É uma emoção única dormir e despertar com as aves, vendo as estrelas, o céu azul, acordar com o sol.  Para mim é o paraíso.

E as crianças? Elas brincam nesse pedacinho de chão dourado e quando se trata de estudar são iguais às outras crianças do mundo, deixam as tarefas escolares pra última hora e muitas vezes resolvem isso no caminho, ou seja, no barco que as leva até a escola, também no lago. Pequeninas e já enfrentado o Titicaca. Há que se ter coragem para vicejar no Titicaca. 

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