28 de jun. de 2010

Outra imagem - O florista e a gata


                                                                                    Ilustrações: Taisa Borges
                                                                                 http://taisaborges.com/?p=145

25 de jun. de 2010

A mínima história da pequena limpadora de moedas

A pequena limpadora de moedas fazia o mesmo trabalho todos os dias, do nascer ao pôr do sol. Sentada num caixote e com um pequeno pano branco enrolado no indicador, ela limpava cada uma dos milhares de moedas de cobre, já enegrecidas, que aguardavam numa pilha, a sua hora de serem polidas.
Fazia seu serviço com boa vontade e alegria. Apenas limpava moedas. Delicadamente esfregava o pano sobre o metal que ia revelando seu brilho, enquanto liberava uma nódoa preta que grudava no tecido claro. Enquanto retirava a cor do tempo incrustada nas moedas, a pequena limpadora observava suas texturas e as inscrições que traziam no seu corpo.
Ali estavam as marcas. As três torres; o cheiro da Arábia; a quentura da África; o exotismo da Turquia; as estepes russas; as geleiras canadenses; o V, o O e o C nas hastes de 1746. O tempo escorria entre seus dedos: 1794... 1837... 1898. De cada tempo uma memória; de cada memória uma história que se juntava à outra, à outra, à outra mais. Um dia chegou à sua mão uma moeda diferente de todas as que já haviam passado por ela. No centro, um vazio em forma de quadrado.
A pequena limpadora levou-a a altura do seu olho direito e fechou o esquerdo, como um gato, para ver melhor.Passou pelo buraco, uniu o céu à terra, o ouro à prata e descobriu o mundo.

19 de jun. de 2010

No Sesc Madureira, eu pergunto:

- E então? Quem aqui já lidou com um computador?
Todos levantam a mão. Lá vou eu na apresentação dos monstros, enquanto expressão de uma cultura. Explico o que é essa tal de literatura oral. Conversamos sobre eles. Surge o bicho-papão e o zumbi no papo. Puxo fios, interlaço daqui e dali, faço conexões dos monstros verdes-amarelos com os de outras terras além dos mares. Histórias presentes na memória de todos os povos em todos os tempos.
Em seguida parto para uma breve introdução no processo de alfabetização digital: mouse, para que  serve; link, o que é e como aparece na tela; mapa de navegação; teclado, localização e demonstração das teclas. Noções básicas para se navegar, para brincar. Divertem-se. Cada conquista, uma expressão de vitória; a resposta certa é festejada, porque foi lá e pesquisou; um objeto que conseguiu pegar; o novo cenário que conseguiu chegar. Desafios. Uma alegria só. Comemoração. Na saída a agente escolar se aproxima de mim e fala "ele quer lhe contar uma coisa".
- Ah é? Então me fala - digo pro menino.
- Eu nunca tinha mexido num computador!
Obrigada, amigos do Sesc, por nos receberem carinhosamente, a mim, crianças e professores, e viabilizarem essas ações. Juntos, deixamos o mundo melhor!

17 de jun. de 2010

E no Sesc Nova Iguaçu...

eu pergunto, no final da oficina:
- E então? Como foi brincar com o jogo? O que vocês descobriram? O que ainda não conheciam?
Logo vem a resposta na fala de uma garota, que fez um esforço danado pra sair do primeiro cenário, por um caminho que lhe pegava na pergunta "onde morava o povo maia?"
- Ah! Foi muito divertido. Eu fiquei sabendo daquele ... (ela pensa, se vira pra cá, se vira pra lá, talvez para achar onde perdeu o nome da descoberta) ah! dos maia, né? Eu pensava que eles moravam na África... aí eu errei e comecei de novo. E veio de novo, a mesma pergunta.... eu fui na ajuda e ouvi que eles moravam ... como é mesmo? América  Central, né? Tem também aquela, acho que é Kali... que é do Japão...
- Não - diz outra menina. Ela é da Índia.              
- Dá pra aprender jogando?, questiono.
- Dá, respondem em coro.
As crianças revelaram saber da existência de outros monstros além daqueles apresentados pela televisão. Na conversa inicial surgiu o lobisomen e a mula-sem-cabeça. Quando falei do basilisco, um menino lembrou dele ao se referir ao livro Harry Potter. Criança leitora. Sem mesmo saber o significado de intertextualidade, ela se apropriou  desse conceito, que implica em conhecimento do mundo.

16 de jun. de 2010

Crianças no Sesc Ramos...






descobrem que o universo dos monstros vai além da TV e que a Iara é uma sereia que habita os rios do Norte do Brasil. Que nesse mundinho vive o Octopés, que pode ser acalmado com folhas de hortelã e que o canto do galo nos protege contra o ataque do  Basilisco. Descobrem que link é alguma coisa que nos liga a outra e que podem dar conta de ir sozinhos até "aquele lugar que tem rio de fogo".
É o meio digital aproximando os saberes da humanidade.

14 de jun. de 2010

O florista e a gata e o tempo das crianças

                                                  http://www.youtube.com/user/clbprodu

Ontem fizemos o lançamento do livro. Público de pequenos.O jeito foi sair da cadeira e sentar no chão, ao lado deles. Mantive a atenção por meia hora. É o tempo dessa idade. Como a concentração também é pequena para textos mais elaborados, de repente eles surgem com perguntas do tipo "qual a sua flor preferida?" Como não responder e identificar que esse é o sinal para o ponto final da leitura? 


Em outra situação, de mais intimidade, menos volume nos microfones das outras salas, mais percepção de alguns escritores, de que o espaço é para bate-papo com o leitor e não animação de auditório, talvez fosse diferente. Mas não foi. Nesse momento precisamos de decisões rápidas, para não por tudo a perder. Muitas vezes a estratégia é você abaixar o volume e jogar com a intenção do texto. Foi isso que fiz. Funcionou. Até gente grande deixou a criança aparecer.




Ora, o livro é para criança maior, aquela que já faz uma leitura silenciosa e só consigo, vai descobrindo e processando o universo dos personagens, as tramas, os dramas. Encaminhamento equivocado do espaço? Talvez. Sei que criei a cena para o lançamento, fiz o roteiro, me preparei e quando cheguei no espaço dei de cara com outro público. A vida e suas imprevisibilidades. Um eterno exercício de se tornar flexivel, para acompanhar o rumo das coisas. Ao mesmo tempo, eles me adoram, parece que eu tenho mel, se jogam em cima de mim e fazem perguntas que nem eu sei responder, como "por que a menina virou gata?"


O livro não dá respostas. Não precisa dar. Deixo essa interrogação para o leitor, que com imaginação e criatividade pode vir a completar a obra. Esse é o espaço do leitor e seu papel de criador, juntamente com o autor. Foi bom!





6 de jun. de 2010

O florista e a gata

Tic tac tic tac tic tac tic tac fazia o relógio do quarto...
tic tac tic tac tic tac respondia o relógio da cozinha ...
tic tac tic tac no escritório ...
tic tac na sala...
A casa era toda tic tac tic tac tic tac...
A casa era o próprio tempo.
Olhei para o relógio na mesinha de cabeceira: três horas da manhã... ulalá... lambi a minha patinha, esfreguei o meu rosto e tentei dormir outra vez. Eu precisava dormir. A cama estava quentinha, macia. Deitei e rolei com as patinhas para o ar, enquanto ouvia aquele tic tac tic tac tic tac. Foi dando uma soneira gostosa e acho que adormeci outra vez.
Depois de um tempo fui levantar como levantava todos os dias, ou seja, jogando as cobertas para o lado, dando uma espreguiçada gostosa e... ai aii aiii... dei logo um “Bom dia, Dia! Bom dia, Sol! Ué, cadê o Sol? O Sol não apareceu hoje, acho que ele resolveu dormir um pouco mais, também.”

Esse texto é o início do livro O florista e a gata, que será lançado no dia 13 de junho, às 15hs, no 12º Salão FNLIJ, no Rio. Essa história me acordou às 3 horas da madrugada, de um dia que não lembro qual, na primavera de 2001. Ela nasceu pronta. Levantei e tratei de materializá-la. Só sai do computador quando havia registrado todos os seus passos. Depois trabalhei nela por um bom tempo, até chegar à versão final. Ela chegou como um presente do meu espírito, uma epifania, uma revelação. Agora, compartilho com você.
O lançamento em Curitiba será no dia 31 de julho, às 15hs, na Bisbilhoteca. Os próximos serão anunciados no meu site, Blog, Facebook e Orkut.

Assista o vídeo de lançamento no Youtube acessando o link abaixo

3 de jun. de 2010

Os ecos da obra e o riso que alimenta


Gratidão e orgulho de mim mesma, foi o que senti, quando soube que fiz parte da história de vida de Cassiana, uma adolescente de sorriso aberto, 17 anos e moradora de Campo Mourão. Cassiana ganhou o CD-ROM Contos e Encantos dos 4 Cantos do Mundo, na época do seu lançamento, em 2002, num evento da Biblioteca Municipal dessa cidade.
                                                               
Ontem, após a palestra que realizei na unidade do SESC Campo Mourão, Cassiana chegou saltitante e eufórica, para me conhecer e contar, que havia navegado tantas vezes pelo CD, que decorou as histórias e sabia os jogos de cor.
Hoje, na apresentação do espetáculo Formosos Monstros, ela voltou e de CD na mão. Linda. E a gente se fotografou, para se lembrar, para demonstrar afeto. Foto é para isso.





Penso que para o artista, não deve haver prazer maior, do que saber que sua obra criou ressonância junto ao público. Esses retornos constroem também a minha história. Voltei alimentada, de tantos beijos e risos do público de pequenos ouvintes, de 3 a 6 anos. Essa idade é singular. As realidades se fundem. O pensamento mágico predomina. Descobertas. Encantamentos. Eu me delicio com eles e ofereço, a mim eu e as histórias, de bom grado e com o coração feliz.

                                                                                       

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