Fazia seu serviço com boa vontade e alegria. Apenas limpava moedas. Delicadamente esfregava o pano sobre o metal que ia revelando seu brilho, enquanto liberava uma nódoa preta que grudava no tecido claro. Enquanto retirava a cor do tempo incrustada nas moedas, a pequena limpadora observava suas texturas e as inscrições que traziam no seu corpo.
Ali estavam as marcas. As três torres; o cheiro da Arábia; a quentura da África; o exotismo da Turquia; as estepes russas; as geleiras canadenses; o V, o O e o C nas hastes de 1746. O tempo escorria entre seus dedos: 1794... 1837... 1898. De cada tempo uma memória; de cada memória uma história que se juntava à outra, à outra, à outra mais. Um dia chegou à sua mão uma moeda diferente de todas as que já haviam passado por ela. No centro, um vazio em forma de quadrado.
A pequena limpadora levou-a a altura do seu olho direito e fechou o esquerdo, como um gato, para ver melhor.Passou pelo buraco, uniu o céu à terra, o ouro à prata e descobriu o mundo.
Sou coordenadora de Educação Infantil, achei interessante esse conto, pois quando você diz que chegou em suas mãos uma moeda diferente eu penso na criança que chega em nossas mãos para não tratarmos ela como diferente, aí este ano vou trabalhar com esse aluno? Devemos sim passar pelo buraco e descobrir o mundo junto com ela., acolhe-la é disso que ela precisa de colo, ser ouvida, atenção. Um abraço Londrina Pr
ResponderExcluirQue riqueza é esse olhar do leitor com suas leituras que expadem o olhar do autor. Obrigada pelo retorno. Abraço, Cléo.
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