fragmentos e encaixes puxar o fio da palavra que repousa no meu ser |
A memória é história. Fonte de conhecimento, a memória certifica a sobrevivência dos saberes de diferentes grupos sociais e carrega consigo, a possibilidade de tornar o passado presente. Ela preserva a identidade individual do ser humano e, subjetivamente, garante a sua continuidade no seio de uma comunidade. Ao falar da memória, Paul Zumthor, autor que investiga a linguagem oral, nos alerta que a duração das lembranças pessoais no núcleo familiar é de duas ou três gerações.
Com o intuito de assegurar essa história, certas sociedades trataram de eleger profissionais da memória para manter o passado de muito longe. Eles foram chamados de skops, escaldos, bardos, rapsodos, griots. Nomenclatura diferenciada em cada cultura. Significado similar a todas: sujeito de memória prodigiosa que conta e canta a literatura do povo.
Quando se trabalha com a memória familiar e da comunidade, preserva-se a história e se favorece o desenvolvimento do processo de identidade cultural, bem como o exercício da cidadania, a recuperação dos valores humanos e o reconhecimento afetivo e cultural da ancestralidade enquanto origem e base do sujeito.
Ao acordar a memória, as emoções vêm juntas. São elas que ativam os sentimentos de quem ouve essas lembranças. Essa escuta atenta e sensível implica em respeito e reverência ao outro e exercita o olhar para os valores humanos.
O ato de narrar coloca os sujeitos, contador e ouvinte, um em companhia do outro. Estabelece cumplicidade ao oportunizar a mais primitiva forma de comunicação. Quem narra se sente vivo e importante, pois a memória não é qualquer coisa de morta, inerte, ao contrário, ela é atuante e motiva a vida. Estimular esse diálogo entre gerações, por meio das histórias pessoais é um ato educacional gerador da paz.
Texto integrante do livro O Fio da História, CLB Produções
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