Senhor (futuro) prefeito Gustavo
Fruet, escrevo de improviso e motivada pela paixão, para lhe pedir um presente
de Natal: mantenha a Praça do Japão como ela é.
O senhor é um homem sensível e
creio, muitos dos eleitores que votaram no senhor foram motivados justamente
por isso. O senhor sabe que uma cidade se faz não apenas de ônibus e estações;
vias e canaletas para articulados; estações de metrô e prédios. Uma cidade se
faz com cerejeiras; bancos protegidos pelas sombras das suas flores rosadas; jardim; lagos com peixes; gramados; gente tomando sol; crianças brincando; jovens
pedalando; casais namorando. A Praça do Japão é isso, tem isso e mais. Tem turistas
fotografando-a, já que é um dos cartões postais da cidade; tem feira dos orgânicos (olha que bacana! Na nossa cidade tem feira de produtos orgânicos em
várias praças. Quantas capitais têm esse privilégio?)
Ao mesmo tempo, eu vejo
Curitiba correndo o risco de se transformar numa cidade desumana e eficiente.
Vejo Curitiba perder sua história e o que lhe faz ser original e única, para se
tornar próspera e grande; com milhares de moradores que vão morar mal, com muito
barulho, pouco ar puro, por que estamos derrubando árvores, logo espantando pássaros,
logo espantando flores... Vejo Curitiba perder sua história para vir a ser uma
metrópole, afinal, uma metrópole é tudo de bom. Mentira. Não é. A cidade não
precisa ser grande no tamanho, mas na sua humanidade. A cidade do futuro deve
ter o tamanho que seus moradores precisam para habitá-la com bem-estar. Ser
autossustentável e não autofágica. Não precisamos de uma nova São Paulo. Aliás,
essa já se mostrou um equívoco.
Senhor prefeito, não altere a
geografia da Praça do Japão por conta de um “azulão”. Há tantas soluções. Seus
secretários sabem disso. Aliás, o senhor elegeu uma equipe tão inteligente, a começar
pela sua irmã, a senhora Eleonora Fruet, que merece a função que lhe foi dada e,
na minha pequena opinião, não importa se é sua irmã ou não, ela é competente,
sensível e honesta, sabemos o que ela fez pela Educação da cidade. O que me
assusta é quando os dirigentes elegem para cargos que podem definir a vida de
muita gente, pessoas tacanhas, com pensamento estreito, que se movem apenas no
plano do material e justificam todas as suas ações equivocadas em nome do
progresso. Ora, esse é um conceito do século passado. Sabemos que um dos piores
enganos que o mito contemporâneo do progresso suscitou na sociedade foi achar
que a saída para os problemas era seguir pelo mesmo caminho, apenas mais
rápido. O século XXI pede um novo olhar e pessoas comprometidas com a razão
sensível, que pensam as soluções para a cidade de olho na qualidade de vida dos
seus moradores.
Não sou uma especialista em meio ambiente, nem em projetos
urbanistas, apenas uma frequentadora da Praça do Japão, e posso lhe dizer que eu, bem como as outras pessoas que passam pela praça e usufruem seu espaço,
sabem como é importante um pedaço de terra para descarregar as tensões do
cotidiano, um jardim pra meditar e depois poder pensar melhor, fazer nosso
trabalho melhor. Ao alterarem a configuração da praça para que os ônibus
manobrem logo ali, a equipe gestora da cidade vai atestar um olhar retrógrado e
caduco. Por favor, mantenham as coisas boas da nossa cidade. Mantenham nossos patrimônios
históricos, materiais e imateriais. Preservem nossa história e ficaremos na
história. Sejamos criativos, isso é o que faz a cidade ser única.
Depois de ler essa carta, se eu fosse o prefeito dessa cidade, eu choraria três noites e três dias. Depois seguiria para o meu gabinete e rasgaria os papéis todos das novas medidas da Praça do Japão. E meu coração estaria lavado para o bem da humanidade. Senhor Prefeito, eu nunca li uma carta tão linda e tocante. Por favor acorde!
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