A narração
oral de história, exercício da voz falada, expressão estética manifestada a
partir de um exemplar literário, estrutura o pensamento e propicia diferentes
experiências. Um texto bem narrado conduz a uma vivência simbólica, pois o
sujeito-ouvinte aprende a se relacionar com as representações da palavra.
Propicia uma vivência social, porque proporciona o acesso ao acervo de
conhecimentos acumulados por outras culturas.
Como consequência ativa a valorização étnica
e a construção da paz, pois gera o respeito à diversidade criadora. Promove uma
vivência educativa ao possibilitar diferentes atitudes diante de um texto
concretizando uma aprendizagem múltipla.
Alteridade é outra
vivência que esta prática proporciona. Por meio do texto narrado o ouvinte vive
a história do personagem sem correr os riscos que porventura ele corre;
experimenta situações singulares; prova afetos; exercita habilidades. Esta
subjetividade implícita na literatura amplia a consciência ética e estética do
ouvinte.
Contar histórias pede disponibilidade e generosidade por parte do
narrador. Demanda um envolvimento com a história e seu simbolismo. A narrativa
bem conduzida abre a possibilidade para que o espectador crie sua própria
história, a partir dos elementos que lhes são oferecidos. Por isso a
importância de alguns critérios, como a escolha de textos de reconhecido valor
literário, que priorizam as imagens nítidas, propõem acordos ficcionais e
poéticos, andam de mãos dadas com fantasia, ampliam as leituras que o leitor
pode fazer de si e do outro e possibilitam o contato com seu mundo interior.
Contar histórias, prática milenar, sustenta um toque
de contemporaneidade, porque se encaixa em paradigmas educacionais emergentes,
como a transdisciplinaridade, linha de pensamento que prevê, entre outros
preceitos, a inclusão dos diferentes níveis de realidade que se abre para os
diferentes níveis percepção. Já a literatura oral se sustenta na complexidade,
na compreensão e aceitação das diferentes culturas, olhares que favorecem uma
formação complexa, redonda, ampla e abrangente.
As
boas histórias, aquelas permeadas pela alma do mundo provocam a sensação de
pertencimento a algo maior, como ser perpassado pelo mistério da vida. Uma boa
história leva à transcendência dos limites do mundo pessoal, marcado por dores
e alegrias, para introduzir o sujeito-ouvinte na universalidade da experiência
humana. Através das
histórias descobre-se que os afetos, seja o sofrimento, o amor, o sacrifício ou a coragem não
são privilégios de poucos. Estes sentimentos lembram ao ouvinte como é eterna e
universal a busca pela paz e pela liberdade; a busca por uma vida de harmonia
livre dos conflitos e das dores.
Essa sensação de pertencimento sugerida pela literatura faz toda a
diferença. Facilita a experiência com o sagrado, que se revela a partir do
aguçamento ou expansão repentina da percepção, e pode ser sentida com a mudança
do nível de consciência. Para isso existem as histórias. Para isso existe
a literatura.
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