31 de dez. de 2010

E no último post do ano só me resta agradecer


O ano de 2010 me proporcionou bons presentes. Lancei três livros e um DVD-ROM. Tive um conto republicado em revista e outros publicados em jornais. Conheci gente linda nos quatro cantos do Brasil. Encontrei uma legião de anjos na Bahia. Amorosidade em Minas. Acolhimento no Rio Grande do Sul. Fui envolvida pelo sorriso das crianças no Paraná, Bahia, Rio, São Paulo. Contei história pra mais de mil. Mergulhei e me embalei na literatura. Fiquei encantada com olhinhos brilhantes e descoberta por gente que eu nunca antes tinha visto. Recebi os melhores desejos e ouvi declarações infantis (nem tão infantis assim) que disseram mais que muita fala de gente grande cheia de saber.

Amei e fui amada. Bebi vinho com amigos e celebrei os 365 dias de surpresas e bem-aventurança. Olhei pra minha alma com mais atenção e carinho. Exerci a delicadeza e a flexibilidade. Curei dores antigas e limpei o porão. Soube aceitar a mão estendida, quando titubeei perante a vida. Andei no sol e mergulhei no mar. Senti o frio roçar meu rosto. Dancei pras deusas em noite de lua. E ri e ri e ri. Também chorei e soube me acalentar para acalmar. Olhei pra armadilhas que nos mantêm no estado de desanimo e desalento e disse que tinha coisa melhor pra fazer. Fui corajosa. Olhei de frente pra sombra e tirei de lá coisas lindas que estavam escondidas, perdidas. Ritualizei e sacralizei meu Eu. Me encontrei e gostei do que vi. Me amei.

E, ao findar das luzes desse ano, chega outro presente. Vem do Norte. Dois livros de poesia e uma carta escrita à mão, com recortes de revista comentando fatos. Coisa impensável nesses tempos. Quem hoje se dá ao trabalho de fazer um presente? Sua autora, sim. Conheço seu coração, mesmo nunca a ter visto. É Giselle Ribeiro, uma encantada de Belém. http://giselle-ribeiro-aprendiz-de-poeta.blogspot.com/ 

                    É com um poema do seu livro 69, eu encerro o ano. Fica como um brinde ao amor.

Tatuagem

Cola
em meu corpo
como tecido fino
ou veludo.
Quero
o afago da tua pele,
nossas roupas no varal...

e tudo o que nos revele.

26 de dez. de 2010

Rede Criança e Paz

 Rede Criança e Paz é uma rede virtual dedicada a promover os direitos das crianças garantidos pelo artigo 227 da Constituição Federal. A rede é uma organização não estruturada hierarquicamente que visa conectar pessoas comprometidas com a proteção, cuidado e educação de crianças desde a gestação, e com a difusão da cultura de paz.
Tem como premissa que a primeira infância é fundamental para o desenvolvimento humano e que o que for feito em prol da criança nesta fase da vida, tem impacto em seu desenvolvimento e na situação social e econômica do país.
Missão: Ser um espaço para conexão e reflexão e ação coletiva sobre temas relacionados à primeira infância e cultura de paz.
Visão: Ser uma referência no processo de transformação qualitativa da realidade da Primeira Infância.

http://redecriancaepaz.ning.com/

23 de dez. de 2010

Meu presente de Natal para você

Era noite da Natal. Os três andavam pela estrada vazia. O pai, a mãe e a filha. Caminhavam sem rumo, de mãos dadas. Não tinham casa, seu lugar era o mundo. Paravam aqui e acolá. Comiam o que era oferecido, o que a terra lhes dava. Os três andavam esperançosos, olhos no horizonte, atentos para o lar que a qualquer hora iriam encontrar.

O pai punha a menina na garupa e a mãe cantava uma melodia antiga que falava sobre a estrela de Natal. A menina quis a estrela como presente de Natal. O pai falou que ela podia pedir ao vento, já que eram amigos. Ele sempre aparecia nessas andanças e a menina se distraia do cansaço das pernas conversando com o vento, que respondia de pronto e animava a menina a continuar.

- Sua casa está logo ali, sua casa está logo ali – soprava ele.

Ou quem sabe pedir ao céu, continuou o pai. O céu tem muitas estrelas e pode lhe dar uma de presente. Logo em frente viram um casebre simples, com chaminé que soltava fumaça. Resolveram parar, quem sabe um copo de água.

- Sejam bem-vindos, sejam bem-vindos - exclamou a mulher da casa. O homem da casa ofereceu um banco para os três e o bebê, que brincava no chão de terra batida, sorriu e estendeu os braços para a menina.

Ela abaixou-se e passou a mão na cabeça careca do bebê. Ele era lindo, tinha bochechas gordas e ria. A menina acarinhou o bebê e ele deitou-se no colo dela. Um tempinho só, mas tão confortante. Uma eternidade. Os três cearam com os outros três. Comeram raízes brancas, frutos vermelhos, sementes marrons, pão quentinho e beberam chá de ervas perfumadas. Despediram-se desejando feliz Natal e tornaram a caminhar.

Logo adiante, a mãe lembrou-se de um bichinho de pano que fizera para a filha, quando tinha a idade do bebê. Carregava o objeto na trouxa. Voltaram para entregar o presente à criança, mas a casa não estava mais lá. Nenhum vestígio do fogo, nenhum vestígio dos três. No chão batido a menina reconheceu a marca da mãozinha do bebê e ao lado dela uma estrela brilhante, a mais linda que ela já viu.

19 de dez. de 2010

Aconteceu comigo no verão

Uma história de amor

Essa é uma história de amor que aconteceu no verão de 1992, em Caraíva, no Sul da Bahia.

Um mês no paraíso. No dia da chegada fomos jantar num dos dois restaurantes que havia por lá. Era noite de lua nova. Escuridão. O vilarejo não tinha luz elétrica. Voltando para casa no rastro da areia branca fomos surpreendidos por um bando de cães. Eram muitos. Latiam e nos ameaçavam. Continuamos a andar, lentamente, sem enfrentá-los e conseguimos chegar bem. Um deles se mostrou amigável. Abandonou o grupo e nos acompanhou.

Na manhã seguinte lá estava ele. Um vira-lata qualquer que passamos a chamar de Cachorro. Ele virou nosso escudeiro e companheiro de praia e caminhadas. Protegia-nos dos outros cachorros e das pessoas que ele não confiava. Após 20 dias fomos visitar a aldeia dos Pataxós. Cachorro foi atrás. Ao cruzarmos o portal da aldeia, um menino correu ao nosso encontro fazendo festa pro Cachorro. Ele era seu cachorro e tinha se perdido no vilarejo. Foi lindo de ver os dois. Cachorro balançava o rabo de felicidade. O indiozinho acarinhava o animal e logo tratou de prendê-lo.

Ao pegar a trilha de volta, após caminhar uns 15 minutos, ouvimos barulho de bicho correndo atrás de nós. Era ele, Cachorro, vindo em na nossa direção e o menino atrás, gritando para que ele parasse. Mas ele só parou ao nos encontrar. Veio se despedir e retornou para a aldeia junto com seu amiguinho, o menino Pataxó.


http://www.gazetadopovo.com.br/viverbem/conteudo.phtml?tl=1&id=1079093&tit=Aconteceu-comigo-no-verao

14 de dez. de 2010

Natal, o presente é o sentido que o livro traz


Pesquisas recentes confirmam que o brasileiro está lendo mais, até mesmo por viver numa sociedade letrada, que exige do sujeito uma continuidade de leituras como condição básica para estar no mundo. A leitura favorece o acesso aos conhecimentos necessários para execução de ações cotidianas e promove o exercício da cidadania.

Saber ler, significa fazer parte de um grupo de pessoas que detém o poder, ao se apropriar de saberes e ideias legitimadas e reconhecidas pela sociedade. Por isso a importância em democratizar a leitura e pensá-la como prática social - trocar impressões sobre o que lê, discutir, trocar, agregar; e pensá-la como prática cultural - ao ler, se compartilha pensamentos, sentimentos, visões e crenças de outros sujeitos, de outras épocas, raças e histórias.

Democratizar a leitura também quer dizer facilitar o acesso aos espaços que contêm livros, como bibliotecas, salas de leitura, livrarias. Implica em alimentar o imaginário das pessoas para a importância do livro literário e do seu poder simbólico de alcançar o mundo interno do sujeito e promover transformações. A literatura é a via da subjetividade e por ela se chega à alma do mundo e se cria o sentido de pertencimento à raça humana.

Que bom presente é o livro, ele não se acaba, porque fala à interioridade do leitor, atua silencioso e, se toca o sujeito, permanece vivo mesmo depois de não existir em sua forma material.

7 de dez. de 2010

A cara de Salvador é Ian.

Carequinha, bochechas generosas, sorriso fácil. Esse é Ian. Essa foi a cara de Salvador, dessa vez. Ele é a imagem que criei da formação do Proinfantil, Salvador, 2010. Ian é um bebê de seis meses, daqueles que logo se vai adjetivando como uma criança fácil. Dado e manso. Participativo e perceptivo. Amor à primeira vista, desde que o vi dormindo com a bunda voltada para o céu. Dali em diante foram apenas algumas horas juntos, mas com gosto de eternidade, partilhada com afeto e leveza. Ian pede cantando. Adorável.

Eu sei que nem todas as crianças são assim. Conheci bebês que choravam o tempo todo. No prédio onde moro, vive uma menina de três anos, que chora todas as noites, histericamente, das 21h às 23h. E sua mãe grita. E ela chora.

No encontro se discutiu a autonomia, desejos e descobertas das crianças. Eu propus a reflexão sobre as histórias na formação dos pequenos. Que histórias contar? Qual o sentido de contar histórias para crianças?

Depois dessa imersão é compreensível que meu foco recaia sobre os pequenos... e seus pais. Acredito que ao olhar os pais se entende os filhos. Nascemos molinhos e receptivos e vamos sendo moldados pelo outro, pelo meio. E o outro pode nos ver como sujeito ou como objeto. Esse olhar contribui para definir uma vida, mais, ou menos harmônica; mais, ou menos feliz. Não seria o caso de rever alguns tópicos do currículo do curso de Educação?

Sou grata pela acolhida da equipe FACED/UFBA. Pelo aconchego da Licinha; a alegria da Mary; o cuidado da Monica; a companhia da Karina e do Ian; a atenção carinhosa do Cleverson e à amorosidade de todos os participantes.

A delicadeza e o riso deixam uma marca indelével na alma das pessoas.



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