22 de ago. de 2012

Laranjas, geleia e literatura




No mais longo e mais frio inverno que tenho lembrança, minha alma endureceu e as palavras congelaram nos meus lábios. Eu as descongelei a beira do fogo cozinhando geleia de laranja e adocei a alma, para que ela amolecesse outra vez.
Uma coisa que me agrada no inverno é laranja e bergamota.  Memória olfativa que trago da infância. Chupava as frutas pendurada na árvore, ou sentada nos muros de pedra embaixo das bergamoteiras.  Ao visitar o pomar do lugar onde nasci, colhi laranja de umbigo da árvore que minha mãe plantou anos e anos atrás. Estava carregada de frutas. Virei menina-moleque. Subi na árvore e desci com elas. Presentes da terra.
De volta à minha casa e com mais laranja do que poderia consumir, resolvi fazer geleia. Enquanto mexia o caldo grosso e perfumado, numa alquimia que transformava líquido em sólido, chegou um pensamento intrometido: se eu não desse certo na literatura iria morar no mato (quem sabe lá, na minha origem!) e venderia geleia de laranja. Em seguida outro pensamento, mais generoso e positivo me lembrou que com literatura não existe isso de dar certo ou não dar certo.  Se escrevo, se recebi o dom de me comunicar pelas palavras, já deu certo.
Para um pensamento primário,  dar certo, pode querer dizer vender milhares de livros, ser assediada pelos fãs, se tornar celebridade, etc etc etc. Essas coisas que dizem pra gente e que aceitamos como verdade, sem ao menos refletir sobre elas. Como nas relações íntimas. Tendemos a achar que um relacionamento só dá certo, quando se fica junto por dezenas de anos, ainda que sejam longos, intermináveis e doídos anos. Juntos, mesmo que não haja mais identificação, nem respeito, nem carinho, e se contabilize apenas o que é material nessa construção conjunta. Mas deu certo. Viveram sob o mesmo teto por 50 anos, dizem.
Bobagem. Quando abstraio esse lugar comum do “dar certo”, me dou conta que em literatura, assim como no exercício das outras artes, e nas relações afetivas, dar certo, é se respeitar no processo criativo, seja da linguagem que se escolheu como forma de expressão, seja na partilha com o outro (o que não deixa de ser um ato criativo,  pois promove transformação). Dar certo é habitar poeticamente o mundo, respeitando nossa verdade e reconhecendo o simbólico da vida, que é dar, receber, largar. É na ação de criar - movimento interno que pede um ser pleno e presente na ação - que é gerado o prazer e a harmonia, condições essenciais para viver bem. Isso é dar certo. Vender muito livro ou contabilizar os anos que se mora junto é outra coisa.
Enquanto as ideias passeavam livremente pela minha mente, a geleia ficou pronta.  E, penso que o melhor de tudo, seja mesmo ficar com as duas, mexer a literatura, enquanto se amadurece uma geleia de laranja. Amando, é claro.

19 de ago. de 2012

História coletiva




Construção de história coletiva pelos participantes da oficina em Cascavel

Era uma vez uma casa onde moravam um gato e uma lebre, num lugar com muito sol. Ali vivia uma menina que gostava de leitura. Ela pegou seu livro, uma garrafa de água e foi ao parque para ler. No caminho encontrou um professor com um papagaio no ombro. Ele disse que tinha uma estante cheia de livros onde pousava um passarinho. Disse também que gostava de cavalo e que tinha muitos alunos. De repente, tropeçou numa pedra, caiu, olhou para o céu e viu uma borboleta. 
Nesse momento uma formiga picou seu pé e ele percebeu que estava sujo como um tatu. Olhou pra frente e não conseguiu nem ver a placa da sua casa. Sentou numa cadeira, bebeu um copo de água e ouviu o galo cantando. Logo em seguida, o professor viu seu cachorro brincando e observando uma galinha que botava ovo nas nuvens. Pronto.


(atividade proposta no livro Práticas de Oralidade na Sala de Aula, Cortez, p.31)

8 de ago. de 2012

Livro dos números bichos e flores





Livro selecionado para o PLND 2013 - Obras complementares. Arte minha, da Claudia Ribeiro Mesquita, Graziela Costa Pinto e Flávio Fargas. Viva eu, viva tu, viva... (com licença Roberto Freire) o girassol que despertou no nosso jardim!

4 de ago. de 2012

Curitiba Velha de Guerra

Era o ano de 1978 passando para 79. Antonio Carlos Kraide, talentoso diretor de teatro em Curitiba, junta um grupo dos bons, Ariel Coelho, Betinha Destefani, Carmem Hoffmann, Carlos Daitschman Cléo Busatto, Fernando Marés, Ivone Hofmann, Juba Machado, Luiz Melo, Paulo Maia, mais  Paulo Vitola e Marinho Galera fazendo a música e cantando " ... é nas mesas dos bares, que a cidade se conta.."
Tinha mais gente. Era uma trupe que se revezava em diversos papéis para fazer a festa, e cantar e contar Curitiba olhando de dentro dos seus bares, que é por onde a cidade se revelava. Um sucesso. A peça circulou pelo Brasil no projeto Mambembão e eu acabei ficando em São Paulo por 19 anos. Uma história.

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