29 de jul. de 2011

Impressões

Quem nunca viveu a aventura de estar em montanhas combatendo dragões, ou até mesmo com espadas mágicas, como a do rei Arthur e os seus cavaleiros da távola redonda, em defesa dos fracos e oprimidos? Quem nunca sonhou em ser o herói da sua própria realidade? Quem nunca gostou de ouvir e viajar no labiar das palavras e nas estradas do discurso? É engraçado pensar que as histórias e até mesmo a arte de contar histórias vem se perdendo ao decorrer do tempo, em mundo que vem sendo abraçado pela tecnologia, acabamos por esquecer o gostoso prazer de ouvir e viajar nas veredas da palavra.
 Foram por esses e outros motivos que a revista Impressões fez uma super entrevista com a poetisa, professora, pesquisadora da oralidade e contadora de histórias,  Cléo Busatto:


1. Como surgiu o interesse em estudar a oralidade?
(Cléo): O interesse surgiu quando percebi que eu não precisava mais do que a palavra falada para encantar o outro. Eu fazia teatro como atriz e dirigia peças para crianças. Aos poucos fui me dando conta que eu era uma artista da palavra e precisa de quase nada para chegar às pessoas. Apenas uma palavra bem dita. Comecei a olhar para essa arte antiga e ao mesmo tempo tão contemporânea que é a narração de histórias. Creio que o contador é esse sujeito mágico que tece os fios invisíveis da teia que é o contar. Por aí fui encontrando a minha vocação.


2. Por que escrever para crianças e se situar nesse universo da literatura infantil?
(Cléo): Creio que a pergunta poderia ser porque escrever. Então respondo, escrevo para dar conta do mistério que é a vida, a minha vida. Por meio da escrita eu me leio e me significo e a partir daí me resignifico, me transformo por meio desse olhar para minha interioridade. Já escrever para crianças tem a ver com a identificação com a minha criança. Às vezes vejo o mundo com meus olhos de menina, aí escrevo pras crianças.


3. O que você acha da atual situação da literatura infantil no nosso país?
(Cléo): Boa. Atualmente se escreve muito e com qualidade. Não que tudo que se escreve tem qualidade, mas tem muita gente talentosa produzindo literatura para crianças. Mas  encontramos também muito texto que se diz literário, e que é só um pretexto para normatizar uma situação, ou seja , passar a velha lição de moral. E ainda se escreve bastante com esse olhar. Literatura é outra coisa. Ela rompe as normas, regras e estabelece uma poética muito personalizada, que não tem a ver com um modelo preestabelecido. Literatura sonha uma vida, um sujeito, um olhar. Cria realidades, formas de ver o mundo e a si próprio.


4. Cléo, Sabido que tem forte conhecimento no que diz respeito à crítica literária, como você concilia os conhecimentos teóricos, com a produção de uma literatura voltada para as crianças?
(Cléo): As teorias servem para nos dar base, fundamentos. A gente olha pra elas, as incorpora, concorda, discorda, reconstrói e as esquece. Daí sim dá pra escrever. Se a gente for escrever com a cabeça voltada para a teoria vira texto científico e não poético. E escrever para crianças é fazer um pacto com a fantasia, senão não dá liga.


5. Como boa contadora de histórias, pergunto-lhe, você acha que a arte de contar histórias está se perdendo em meio a velocidade e avanço midiático na pós-modernidade?
(Cléo): Acho que sempre vai haver espaço para uma boa história. Aliás, contar história implica em manter a história viva, a nossa história pessoal, familiar, comunitária. É bom a gente lembrar-se disso. Sentar-se à mesa para comer e contar o que aconteceu consigo é uma maneira de compartilhar afetos. Isso precisa ser mantido. Enquanto as pessoas se lembrarem de si, a história será lembrada.
O risco é ficar com só com a história alheia, com o big brother e se esquecer de que cada um carrega uma história que merece ser contada, ouvida, compartida.
O tempo da pós-modernidade é fragmentado, irregular, preso a dimensão do prático e do racional. Já o tempo da história é mítico, circular, sagrado. Quando se abre para esse tempo, se recupera uma instância da memória que seduz e nos transporta para um espaço onde tudo é possível. Isso é importante para a saúde emocional do sujeito. Sem essa instancia do sonho, o mundo perde o sentido e, consequentemente, a vida perde o sentido. Aí vem a tragédia, a dor. A história pode recuperar a alegria e a paz de viver.


Muito obrigado pela entrevista e espero que continuemos a ver e escutar suas histórias, contando mais vezes com a sua participação aqui no impressões.

Entrevista e texto: Ramon Diego 

http://impressoes.soudegloria.com.br/?p=211

18 de jul. de 2011

O Fio da História - por uma educação pela paz

   Estar com um novo livro em mãos é sempre um prazer e uma grata sensação de ter conseguido materializar uma ideia. A produção literária é uma tarefa curiosa, porque pede um tempo para se construir por si só. Comigo acontece assim, eu vou reunindo as reflexões dentro de mim e depois largo, deixo que elas convivam, umas com as outras. Aí se dá uma produção subjetiva de refinada arquitetura e quando me dou conta, é só puxar o fio da história.
  Agora convido você a conhecê-lo. Com ele proponho novos olhares sobre oralidade e narração de histórias, através de quatro projetos que integram as linguagens oral, plástica, cênica e sonora. O livro é um registro de trabalhos desenvolvidos com a palavra falada, durante minha prática pedagógica.
   O livro é dividido em três capítulos. O primeiro, A memória e a história: fragmentos e encaixes apresenta o projeto Livro da Memória. O segundo, Puri, o sopro criador sugere a Roda da palavra e seus desdobramento. O elemento sensibilizador desse segmento é o mito de origem do povo Wapixana, A árvore de Tamoromu. No terceiro capítulo, A palavra revelada, indico duas atividades: construção do Livro-dobradura inspirado pelo conto, Mulher-Sol, homem-Lua. e Teatro de bonecos, onde oriento a adaptação para roteiro cênico do conto Cobra Norato, a construção e a manipulação dos bonecos.
   O livro apresenta projeto gráfico e ilustrações de Paulinho Maia. A editoração é da Arte & textos e a produção da CLB Produções. O projeto foi realizado com recursos da Lei de Incentivo da Prefeitura Municipal de Curitiba – Fundação Cultural de Curitiba. Contou com o incentivo da Volvo e Clinipam.


O lançamento em Curitiba será no dia 06 de agosto na Bisbilhoteca, Rua Carlos de Carvalho, 1166. Estarei lá para um bate-papo com o leitor às 11hs e 15hs. Espero você.

9 de jul. de 2011

Jardim de Monet

Estive em férias por alguns dias, ainda que  não fosse o período mais apropriado para me ausentar. Preferi mantê-las, porque elas estavam marcadas há meses e também, porque tenho me proposto a fazer acontecer esses intervalos de pausa, mesmo que seja durante períodos tumultuados. Olhar de fora esses momentos é um privilégio.
Decidi visitar o espaço onde Monet morou e criou sua obra. Com um entorno tão favorável a criação devia fluir harmonicamente. Os jardins de Monet são um modelo de diversidade. Tudo se mescla, cores, formas e perfumes. Eles foram construídos, pensados, traçados, mas as flores se misturam tão espontaneamente, que se chega a pensar que nasceram e cresceram sem a intervenção humana. As espécies interagem e se aceitam como são, algumas mais feias, outras mais bonitas. Da mais comum a mais sofisticada, elas mantêm sua personalidade.
Penso nas relações humanas e na dificuldade que temos de aceitar o feio, o torto, aquilo que segundo nossos critérios, não combina com as nossas boas qualidades. Rejeitamos o que não está completo, o que se choca com os padrões de bom comportamento. Aceitamos o que foi convencionado como desejável socialmente e nos inflamos de teorias para justificar e julgar o que não é do nosso agrado.
No jardim de Monet encontro o tom da reflexão. As flores tortas e já despetaladas também têm espaço por lá.

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