No início do mundo só
havia uma fogueira por toda a terra conhecida pelos Kaingang. Pertencia a
Minarã, mas ele não o dividia com ninguém. Um dia o guerreiro Fiietó transformou-se
numa gralha branca e partiu em busca do fogo. Tinha um plano. Mergulharia no
rio onde se banhava Iaraví, filha de Minarã e esperava ser salvo por ela. Foi
bem isso que aconteceu. Ela recolheu o pássaro encharcado e colocou-o para secar
junto ao fogo. Deslumbrado com o que viu, Fieetó pegou um tição com o bico e
saiu voando. Carregava o fogo pros seus amigos Kaingang. Era um fogo pequeno,
pequeno ainda, mas o suficiente para oferecer a eles, luz e calor... [1]
... e assim vai se desenrolando esta narrativa mítica que trata de
um tema universal. A conquista do fogo. Este fato foi tão significativo para a
humanidade que todos trataram de criar uma história. O fogo foi dotado de
sentidos que ultrapassam a dimensão antropológica para adentrar no plano
simbólico e nos trazer imagens memoráveis que remetem à iluminação,
purificação, transformação e sabedoria. Nessa perspectiva o fogo se apresenta como uma metáfora para a aquisição
do conhecimento e para a ampliação da consciência individual.
Isso tem a
ver com a educação. Educar é acender o fogo interior do educando e
sensibilizá-lo para que ele o mantenha aceso. E somos nós, artistas e
educadores, que devemos manter viva essa imagem, alimentando nosso fogo interno,
condição essencial para inflar o fogo do outro e prepará-lo para a conquista de
saberes.
Fogo
interior é fogo sagrado que mora no coração, e saber comprometido com o coração
se torna sabedoria, faz surgir possibilidades criativas e criadoras, gera uma
educação orientada para a paz. Este é o verdadeiro poder, porque é orientado
pelo conhecimento, que se adquire lendo,
por exemplo. Lendo a mim, ao outro, o que está em torno e lendo o texto. Este é
o campo dos domínios da língua e Umberto Eco, escritor italiano, lembra-nos que
a literatura mantém a língua em exercício.
Uma das
funções da minha vida (casa 10 do zodíaco, o que se deixa para o mundo) é atuar
com e para a leitura, principalmente a leitura literária. E vivo me deslumbrando
com isso. Como diz a amiga leitora Giselle, você nasceu para brincar de ser vaga-lume e viver
assim: acendendo e apagando na mente dos que te leem. Se pego
emprestado essa imagem luzidia é porque ela me define. Olho para o conceito e
digo a mim mesma, e não é que pode ser isso mesmo?