Era véspera de Natal. Os três andavam pela
estrada vazia. O pai, a mãe e a filha. Caminhavam sem rumo, mãos dadas. Não
tinham casa, seu lugar era o mundo. Paravam aqui e acolá. Comiam o que lhes
ofereciam. Comiam aquilo que a terra lhes dava. Os três andavam esperançosos,
olhos no horizonte, atentos para o lar que poderiam encontrar.
O pai punha a menina na garupa e a mãe cantava
uma canção antiga que falava sobre a estrela de Belém. A menina quis a estrela
como presente. O pai falou, peça ao vento, seu amigo. O vento sempre aparecia
nas andanças e a menina se distraia do cansaço das pernas conversando com ele.
O vento animava a menina a continuar.
- Sua casa está logo ali, sua casa está logo ali
- soprava ele, e a menina sorria e avançava na caminhada.
- Ou quem sabe você pede ao céu, continuou o
pai. - O céu tem muitas estrelas e pode lhe dar uma de presente.
Continuaram andando e avistaram um casebre
simples. A chaminé soltava fumaça. Resolveram parar, quem sabe beber um copo de
água.
- Sejam bem-vindos, sejam bem-vindos! - exclamou
a mulher da casa.
O homem da casa ofereceu um banco para os três.
O bebê que brincava no chão de terra batida, sorriu e estendeu os bracinhos
para a menina. Ela abaixou-se e passou a mão na cabeça careca do bebê. Ele
era lindo, tinha bochechas gordas e ria. A menina acarinhou o bebê que se
deitou no colo dela. Um tempinho só, mas tão confortante. Uma eternidade.
Os três cearam com os outros três. Comeram
raízes brancas, frutos vermelhos, sementes marrons, pão quentinho e beberam chá
de ervas perfumadas. Despediram-se desejando feliz Natal e tornaram a caminhar.
Logo adiante, a menina lembrou-se de um bichinho
de pano que a mãe fizera para ela, quando tinha a idade do bebê. Carregava o
objeto na mochila. Resolveu dá-lo de presente à criança. Voltaram, mas a casa
não estava mais lá. Nenhum vestígio do fogo, nenhum vestígio dos três.
No chão, onde antes estava sentada a casa, a
menina reconheceu a marca da mãozinha do bebê e ao lado dela uma estrela
brilhante, a mais linda que ela já viu.
Cléo Busatto
gosta de gatos, é escritora, mediadora em projetos de oralidade, leitura e
literatura infanto-juvenil, contadora de histórias, mestre em Teoria Literária
pela (UFSC) e pesquisadora transdisciplinar formada pelo Cetrans.
Publicado em NOVEMBRO 2011,
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