26 de dez. de 2012

Há um japão na minha vida



Senhor (futuro) prefeito Gustavo Fruet, escrevo de improviso e motivada pela paixão, para lhe pedir um presente de Natal: mantenha a Praça do Japão como ela é.

O senhor é um homem sensível e creio, muitos dos eleitores que votaram no senhor foram motivados justamente por isso. O senhor sabe que uma cidade se faz não apenas de ônibus e estações; vias e canaletas para articulados; estações de metrô e prédios. Uma cidade se faz com cerejeiras; bancos protegidos pelas sombras das suas flores rosadas; jardim; lagos com peixes; gramados; gente tomando sol; crianças brincando; jovens pedalando; casais namorando. A Praça do Japão é isso, tem isso e mais. Tem turistas fotografando-a, já que é um dos cartões postais da cidade; tem feira dos orgânicos (olha que bacana! Na nossa cidade tem feira de produtos orgânicos em várias praças. Quantas capitais têm esse privilégio?)

Ao mesmo tempo, eu vejo Curitiba correndo o risco de se transformar numa cidade desumana e eficiente. Vejo Curitiba perder sua história e o que lhe faz ser original e única, para se tornar próspera e grande; com milhares de moradores que vão morar mal, com muito barulho, pouco ar puro, por que estamos derrubando árvores, logo espantando pássaros, logo espantando flores... Vejo Curitiba perder sua história para vir a ser uma metrópole, afinal, uma metrópole é tudo de bom. Mentira. Não é. A cidade não precisa ser grande no tamanho, mas na sua humanidade. A cidade do futuro deve ter o tamanho que seus moradores precisam para habitá-la com bem-estar. Ser autossustentável e não autofágica. Não precisamos de uma nova São Paulo. Aliás, essa já se mostrou um equívoco.

Senhor prefeito, não altere a geografia da Praça do Japão por conta de um “azulão”. Há tantas soluções. Seus secretários sabem disso. Aliás, o senhor elegeu uma equipe tão inteligente, a começar pela sua irmã, a senhora Eleonora Fruet, que merece a função que lhe foi dada e, na minha pequena opinião, não importa se é sua irmã ou não, ela é competente, sensível e honesta, sabemos o que ela fez pela Educação da cidade. O que me assusta é quando os dirigentes elegem para cargos que podem definir a vida de muita gente, pessoas tacanhas, com pensamento estreito, que se movem apenas no plano do material e justificam todas as suas ações equivocadas em nome do progresso. Ora, esse é um conceito do século passado. Sabemos que um dos piores enganos que o mito contemporâneo do progresso suscitou na sociedade foi achar que a saída para os problemas era seguir pelo mesmo caminho, apenas mais rápido. O século XXI pede um novo olhar e pessoas comprometidas com a razão sensível, que pensam as soluções para a cidade de olho na qualidade de vida dos seus moradores.

Não sou uma especialista em meio ambiente, nem em projetos urbanistas, apenas uma frequentadora da Praça do Japão, e posso lhe dizer que eu, bem como as outras pessoas que passam pela praça e usufruem seu espaço, sabem como é importante um pedaço de terra para descarregar as tensões do cotidiano, um jardim pra meditar e depois poder pensar melhor, fazer nosso trabalho melhor. Ao alterarem a configuração da praça para que os ônibus manobrem logo ali, a equipe gestora da cidade vai atestar um olhar retrógrado e caduco. Por favor, mantenham as coisas boas da nossa cidade. Mantenham nossos patrimônios históricos, materiais e imateriais. Preservem nossa história e ficaremos na história. Sejamos criativos, isso é o que faz a cidade ser única.

17 de dez. de 2012

Lendo o suprassenso




Dia desses, eu postei no Facebook o texto “ando assim, quanto mais me encontro mais me desconheço”. Uma moça compartilhou o post no seu perfil e acrescentou o comentário, “ou seja tô perdidaça”. Não sei quem é essa moça para poder entender esta observação. Meu perfil na rede tem caráter profissional e sempre aceitei todos que pediram para serem adicionados, afinal, não sou eu que escolho o leitor, ele vem a mim.
Enquanto pessoa que trabalha com leituras, num primeiro instante eu questionei esse olhar linear lançado para meu texto, mas logo me dei conta que essa é a forma com que as pessoas leem o mundo e o que está à sua volta. Talvez nunca tenham se encontrado com Guimarães Rosa, para lhes dizer que “a vida também é para ser lida, não literalmente, mas em seu suprassenso”.
Ora, é só ir além das palavras para dar-se conta que eu falo do processo de autoconhecimento e das constantes descobertas que vamos fazendo ao longo da caminhada. Viver é ir ao encontro do desconhecido. Novamente me dou conta que esse é o movimento de poucos, pois exige disponibilidade para ficar em silêncio e viver a solitude. E não é o que pede a sociedade contemporânea! Essa nos obriga a ocupar todos os espaços e com excessos, seja de barulho, imagens, coisas, gente, emoções, opiniões, e não permite que sejamos únicos e diferentes da maioria.
Dias atrás, eu vi um vídeo sobre a chamada era de cristal, este novo ciclo que se inicia. Fala-se sobre a transição do planeta e as modificações energéticas que vão incidir sobre a consciência individual e coletiva da humanidade. Está ocorrendo a ativação e mudança da kundalini da terra, ou seja, uma alteração do seu eixo, que se fixará em algum ponto da América do Sul, entre a terceira semana de dezembro e a terceira semana de fevereiro.
Ora, se isso pode parecer esotérico demais para as mentes pragmáticas, parafraseio Guimarães Rosa e digo-lhes, hora de ir além do suprassenso. Muito do que é dito no vídeo fez eco em mim. C.G.Jung nomeou isso como inconsciente coletivo. Segundo a apresentadora, uma das consequências desse evento é a mudança da estrutura energética do ser humano. Passaremos a atuar do nível do cardíaco (energia do amor) para o coronário (espiritualidade). Até então nossa energia circulava entre o chacra da raiz (materialidade) e plexo solar (poder).
Em 2003 quando escrevi Contar e encantar – pequenos segredos da narrativa, eu dizia que ao contar histórias lançamos um fio de prata que sai do plexo e envolve os presentes. Há alguns anos mudei meu olhar e passei a dizer que ao narrar histórias projetamos um fio de ouro do cardíaco, que enlaça ouvintes e narrador num único espaço. É a energia do amor que nos une e essa é a tônica da era de cristal. A onda do medo, agressividade, autoritarismo, controle e manipulação, já era. Agora a vibe é outra.
Então, que venha esse novo tempo (ufa, enfim!) que vai nos confrontar com o desconhecido para inaugurar um novo ser. Agradeço sua companhia nesse desafiador 2012 e desejo-lhe boas festas e inicio de ciclo. O meu inicia dia 5 de janeiro. Até lá, olharei para mim e me perguntarei todos os dias, o que está mudando à minha volta? E espero poder responder: 
- Eu!

4 de dez. de 2012

À caminho do sertão



A linguagem, ato do suprassensível,  a casa do ser (como quer Heidegger) me aproxima do sertão. Essa ideia provoca em mim reflexões sobre o homem andarilho que desvenda os duplos e os limites do ilimitado. Sertão. Silêncio. Andarilho. Mensageiro. Quietude. A literatura me leva e  revela em mim o desconhecido. Eu vou. 
Pau dos Ferros. No seu início uma trilha criada por vaqueiros e viajantes que vinham do Rio Grande do Norte em direção à província do Ceará. A trilha aberta entre duas serras margeava um riacho, que aliviava o calor e deixava as caminhadas mais amenas, para os homens e o gado que era conduzido para a venda.



Oralidade na primeira infância

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