29 de mar. de 2010

Segunda é dia do sétimo manifesto...






A arte de contar histórias traz o contorno, a forma. Reatualiza a memória e nos conecta com algo que se perdeu nas brumas do tempo.


Busatto, Cléo. Contar e encantar - pequenos segredos da narrativa. Vozes, 2008

28 de mar. de 2010

Ariano Suassuna



Ouvir Ariano Suassuna, no Teatro Positivo, nessa noite de chuva, foi um prazer.
Ele é um excelente contador de histórias, cheio de graças, como ele mesmo se revela. E faz graça. A tentativa de embarcar num vôo, com a tal "espada literária", recebida na solenidade de posse na Academia Brasileira de Letras é um riso só, permeada por exclamações... pausas e "adjetivos. Pronto. Eu sou assim. É minha característica. Preciso de adjetivos". Uma beleza.

Ao iniciar o papo diz que não vai falar de si , porque "os autores de teatro tem complexo de eixo, acham que tudo gira em torno deles".  Mas ele fala de si próprio e conta histórias, como para explicar o surgimento dos seus personagens e dessa forma, nos presenteia com mais uma lúcida observação "a melhor maneira de se tornar universal é pintar bem o ser humano do seu lugar e do seu tempo".
E como não falar de si, se a vida que a gente vive é aquilo que a gente faz dela? Mas, bem entendido, ele fala sem a afetação teatral, que a exposição sugere. Ao mesmo tempo faz cena, imita toureiro.. hilariante! Aquela figura magérrima, toda de branco, fazendo cara de toureiro espanhol ... Um personagem.
E não se conformava que elas, as suas criações, se vestissem  "assim, sem graça, como a gente se veste  no dia-a-dia". Queria roupa bonita, que traduzisse as imagens poéticas que ele criava.
"E não venha me dizer que devo ser como Graciliano Ramos, um amargurado, eu não sou assim, eu gosto do riso".
Obrigada por nos presentear com a sua graça e seu riso, seu Ariano, e por nos oferecer suas "imagens teatrais reacriadas a partir do real".


(ilustração Paulo Maia)

22 de mar. de 2010

Segunda é dia do sexto manifesto...





Contar histórias é uma arte, uma arte rara, pois sua matéria prima é o imaterial e o contador de histórias um artista, que tece os fios invisíveis dessa teia que é o contar.

Busatto, Cléo. Contar e encantar - pequenos segredos da narrativa. Vozes, 2008

20 de mar. de 2010

Contar com o coração


Gostaria de iniciar a nossa conversa com esse pequeno segredo sobre a arte de contar histórias – conte com o coração!

Contar com o coração implica em estar internamente disponível para essa ação, disposto a doar o que temos de mais singular e, entregando-se a essa função, com alegria, prazer e boa vontade. Ao contar uma história doamos o nosso afeto, nossa experiência e vivências, que carregamos do caminho percorrido. Resignificamos a nossa história e compactuamos com o que o conto quer dizer. Por isso torna-se fundamental que haja uma identificação, entre o narrador e o conto narrado. Tornar-se um.

Antes de sensibilizar o ouvinte, o conto precisa nos sensibilizar. A maneira como enxergamos a história será a mesma com que o outro irá vê-la. Se a considerarmos uma mera distração e entretenimento, será assim que ela irá soar. Mas, se formos tocados pelas suas imagens e percebermos que ela pode ser uma pequena luz a clarear as trevas, assim ela será.

Que história eu vou contar? Aqui está a chave. A escolha do exemplar literário. Se ele foi construído com o entendimento das diferentes realidades, que incluí o simbólico e a epifania, ele pode se aproximar do mundo imaginal do seu leitor.

Outro aspecto diz respeito ao envolvimento com a história narrada, o que permite maior flexibilidade ao narrador. Ele poderá perceber como ela atua nos ouvintes, e conduzir a narrativa, para lá e para cá, dançar com ela, deixar que ela ressoe no íntimo de cada sujeito, e perceber as intenções que surgem a cada instante: um riso, um lágrima, uma expressão de medo, de repulsa, surpresa.

Atuar juntos: história, ouvinte e narrador.

Cada narrador imprime seu jeito ao conto narrado, prioriza passagens que mais lhe impressionam, reforça alguma imagem que lhe toca, um sentimento que quer brotar. Isso se dá ao pensarmos na narrativa como uma atividade dinâmica, que atua sobre diferentes níveis de realidade.

E, são essas identificações entre narrador e conto narrado, que fazem a diferença numa contação de história. É isso que amarra o sujeito-ouvinte, ao fio de prata que é lançado do coração do sujeito-narrador. É isso que une, que repercute, que embala a alma.

Se existe essa integração, o conto passa a atuar sob o signo da dimensão mítico-simbólica e do mistério. Alcança aquele espaço que a linguagem racional não chega, mas que é alcançado pelas metáforas, pelas memórias, pela poesia. Avizinha-se desse espaço de interioridade, que podemos chamar de vida psíquica e de vida espiritual. Amplia a compreensão do mundo interno e subjetivo, ao nos colocar mais perto de nós mesmos.

Narrar sem essa consciência - de onde o conto pode chegar e, que faíscas ele pode acender no ouvinte -, implica em agir apenas na dimensão do prático-corporal e do lógico-epistêmico. Significa atuar sob a lógica clássica, dual e limitada, qua apenas dá voz ao que vem de fora, daquilo que é ditado pelo externo, imposto pelas instituições, aquilo que aceito, mas que nem sempre reconheço como meu. Nessa situação, a narrativa deixa de ser uma experiência compartilhada que descortina o universo pessoal do sujeito e passa a ser, apenas mais uma informação.

Compartilhar: tomar parte de algo com alguém, estar junto, em todos os níveis. Compartilhar: um verbo importante para se conjugar, principalmente na contemporaneidade, esse tempo fragmentado e rápido, que exclui o "estar com", principalmente comigo. É preciso se entusiasmar para contar. É importante se permitir àquele intervalo de silêncio, perdido em algum lugar da nossa história. Há que se abrir um novo intervalo de tempo e descobrir o tempo de estar junto e de saborear uma história de amor.

Esse é o sentido de contar histórias!

16 de mar. de 2010

Transdisciplinaridade

Encontro dos membros do Cetrans, 12 a 14 de março. Instituto Jatobás, Fazenda dos Bambus.

No viveiro, estandartes com frases como essas, enquanto Bach fica tocando, dia e noite, para os brotinhos se alegrarem e romperem a terra em direção a luz:"A quarta verdade que o bambu nos ensina é não criar galhos.Como tem a meta no alto e vive em moita, em comunidade,o bambu não se permite criar galhos.Nós perdemos muito tempo na vida tentando proteger nossos galhos, coisas insignificantes, as quais damos um valor inestimável.Para ganhar é preciso perder tudo aquilo que nos impede de subir suavemente." E essa: "O bambu é oco, vazio de si mesmo. Enquanto não nos esvaziarmos de tudo aquilo que nos preenche, que rouba nosso tempo, que tira nossa paz,não seremos felizes. Ser oco significa estar pronto para se encher de Espírito Santo."

O terceiro incluído em Lupasco. O sagrado para Heiddeger e Nishitani. Nessa proposta de dois dias, caminhar movidos pela "simetria afetiva" e "assimetria cognitiva".

O terceiro incluído não permite que se perca a particularidade. Nessa lógica, as contradições são mantidas, aceitas. Considera-se a mudança, movimentos. Leva-se em conta o tempo e espaço, as diversificações, identificações, potencialização e atualização. Esse estado T emerge e contem as características macroscópica, psicológica, estética, afetiva, paradoxal.

O ser e sunyata . O niilismo carregando consigo tudo o que encontra pela frente, como uma grande boca negra, devoradora e não devolutora,vácuo espiritual. Retrato da contemporaneidade.Como voltar para casa, para a morada original? Qual é a saída?
Os dois sugerem a experiência da transcendência para além de todo horizonte metafísico. O "deixar-ser do pensamento meditativo" de Heidegger. A "vivência religiosa radical por meio do sunyata,a nadidade absoluta", de Nishitani."Na Grande Morte. céus e terra tornam-se novos."

Como viver o espírito transdisciplinar? Como estar no mundo e atuar nele e com ele, feito bambu, flexível e oco? Como se manter desperto e atento em meio a tantos ruídos? Como fazer da escuta um exercício de sensibilidade?

15 de mar. de 2010

Segunda é dia do quinto manifesto...





O contador de histórias trabalha muito próximo da essência e essência vem a ser tudo aquilo que não se aprende, aquilo que é por si só.

Busatto, Cléo. Contar e encantar - pequenos segredos da narrativa. Vozes, 2008

8 de mar. de 2010

Segunda é dia do quarto manifesto...







O contador de histórias, como um mágico, faz aparecer o inexistente e nos convence que aquilo existe.

Busatto, Cléo. Contar e encantar - pequenos segredos da narrativa. Vozes, 2008

7 de mar. de 2010

Domingo, 2º dia de navegação

Garoto de 9 anos, torce, arrisca, investiga, navega pelos cenários dos monstros, se diverte e ri. Eu também!

6 de mar. de 2010

Navegando pelos Formosos Monstros

A gente percebe quando a obra cria ressonância no outro, por meio de pequenos detalhes. Estava apresentando o DVD-ROM no MON. Platéia de adultos.
Apenas uma criança. Um garoto de 4 anos.
Após 1/2 hora digo que vou encerrar. Ele se manifesta, antes que qualquer adulto: "ainda não!"
Ok, solicitação dessas não se contraria.Continuo.Tempo depois caio no mesmo conto.Coisas do jogo.Outra observação pontual: "vai lá pra cima, esse a gente já viu!"
"Lá pra cima" queria dizer, áreas do mapa ainda não exploradas, Europa, Ásia.
Pronto. Aprovado pelo público alvo.
Feliz.

As incríveis histórias de Cléo Busatto


As incríveis aventuras de Cléo Busatto


A atriz, contadora de histórias e escritora lança hoje e amanhã, no MON, Formosos Monstros, o seu mais recente trabalho

Publicado em 06/03/2010
MARCIO RENATO DOS SANTOS
Caderno G


                                                                                                        O segredo de Cléo:
“É preciso ser fluente e entrar em sintonia com o outro”


MULTIMÍDIA



Cléo Busatto fala com palavras, mas também por meio da movimentação de seu corpo. A atriz que se tornou contadora de histórias também é autora. Mas, antes de qualquer definição, ela é uma pessoa que acredita que toda cesta básica, além de feijão e arroz, tem de obrigatoriamente conter livros.

Todo ser humano, Cléo tem certeza, precisa de enredos. E conhecer, tecer e apresentar enredos é algo que ocupa 99% do tempo dessa multifacetada artista.

Hoje, a luz pode até cair no Centro Cívico. Se o fornecimento do serviço da Copel também falhar amanhã, Cléo não arrancará os cabelos. Afinal, nestes dois dias do fim de semana, ela vai apresentar, ao público, o conteúdo de seu quarto DVD-ROM, Formosos Monstros, no miniauditório do Museu Oscar Niemeyer (MON).

Essa proposta reúne som, texto e imagens em movimento. Tudo com a finalidade de acender o imaginário de quem está, por exemplo, na frente de um computador. No fundo, o suporte é apenas um detalhe para essa artista que deseja contar histórias todos os dias.

Diariamente, ela investe pelo menos 120 minutos de energia para gerar conteúdo nos espaços virtuais onde tem um endereço, seja Orkut, Facebook, Twitter etc. Cléo sabe que esses canais são pontos de contato com eventuais interlocutores nesses tempos em que a fragmentação dá o tom, em dias e noites em que poucas pessoas passam mais de 40 minutos sem conferir se chegou um novo e-mail.

Mas ela não quer se enxegar como vítima ou presa desses formatos breves em que se pode mandar todo e qualquer recado.

Entre um gole de café carioca e outro de água sem gás, deixa escapar que tem dois ou mais romances em andamento, e talvez três outras longas narrativas finalizadas. Mas desconversa. Não revela nem mesmo o nome de duas obras que estão no prelo.

A catarinense que viveu em São Paulo e no Rio de Janeiro, agora faz de Curitiba e cenário de quase todos os seus passos. Ela concluiu mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Tentou responder a seguinte pergunta: quais são e como são as novas possibilidades de se contar uma história no século 21?

Mais do que responder ao desafio, o que de fato fez, pois defendeu a dissertação em 2006, ela transformou o projeto acadêmico em um livro. Mas, século 21 em trânsito, e ela estava envolvida na realização de DVD-ROMs, uma possibilidade de contação.

No momento de registrar a imagem para esta matéria, o repórter fotográfico Antonio Costa pede para Cléo andar com pressa, “como faz todo curitibano”. A artista sorri, apressa o passo, mas não deixa de observar que não é apenas em Curitiba que se caminha como se o mundo fosse acabar na próxima esquina.

Hoje, Cléo percebe que praticamente todos os habitantes do planeta estão acelerados, em comparação a outros tempos, como no fim do século passado, que parece ter sido ontem, mas lá se vão dez anos.

Também já faz uma década que ela lançou o seu primeiro livro, Dorminhoco, que daqui a pouco atinge a marca dos 20 mil exemplares vendidos. Cléo é identificada como uma autora de narrativas infantis, mas ela sabe que é uma escritora, e não pensa em rótulos nem destino calculado de seus enredos. “Quero escrever e ser lida, se der, por todos os leitores”, diz.

Cléo também transita pela chamada arte-educação. Apenas de 2005 para cá, capacitou mais de 40 mil profissionais e contou histórias para mais de 65 mil pessoas. Escrita ou falada, ela começa a confirmar uma tese: um dos segredos de uma história é a fluência. Como um rio que leva uma folha, argumenta Cléo, um texto, na tela do computador ou impresso em papel, tem de conduzir os olhos do leitor do início ao fim.

O contador de histórias, conta Cléo, também tem de ter fé. Afinal, o emissor precisar acreditar no que está falando, “Se não, como pode esperar que o público entre no mundo que ele está apresentando?”, pergunta a contadora.

Há muitos outros segredos a respeito da arte de contar uma história e Cléo tem, a exemplo de todo mestre-cuca, os seus, sobre os quais mantém sigilo, até porque nem tudo pode ser explicado. Mas toda história, pondera, precisa ser contada.

Serviço:

Lançamento e demonstração do DVD-ROM Formosos Monstros, de Cléo Busatto. Museu Oscar Niemeyer (R. Marechal Hermes, 999), (41) 3350-4400. Dia 6, a partir das 15h e dia 7, a partir das 16h. Entrada franca.

Rastros e marcas

Saiba mais sobre a trajetória de Cléo Busatto

Quem é?

Cléo Busatto é escritora. Também é mediadora em projetos sobre oralidade, leitura e literatura infanto-juvenil. Mas ela ainda é conhecida por ser narradora oral de histórias.

Multimídia

Pesquisadora das possibilidades de como contar histórias na contemporaneidade, fez mestrado na UFSC sobre o assunto. Idealizou quatro DVD-ROMs para traduzir, na prática, esse projeto: Contos e Encantos dos 4 Cantos do Mundo, Lendas Brasileiras, Nos Campos do Paiquerê e Formosos Monstros.

Livros

Entre as suas obras, destaque para Paiquerê, O Paraíso dos Kaingang, Pedro e o Cruzeiro do Sul, A Arte de Contar Histórias no Século XXI etc.

Atuante

Catarinense radicada em Curitiba, ela já surpreendeu a comunidade de muitas maneiras. Circulou pelas dependências do Shopping Estação vestida de fada, realizou projeto de incentivo à leitura para alunos de escolas municipais, em que sugeriu que os meninos e as meninas se vestissem com a melhor roupa para entrar pela primeira vez em bibliotecas e livrarias.




4 de mar. de 2010

Octopés, Dragão e Curacanga

Pronto, o link do youtube.É só dar um pulinho lá e saborear esses formosos monstros.


http://www.youtube.com/user/clbprodu

Lançamento DVD Formosos Monstros - 2

O lançamento do DVD-ROM Formosos Monstros será no MON - Museu Oscar Niemeyer - Curitiba/PR.
Dia 06 de março, sábado a partir das 15 horas e no 07 de março, domingo às 16 horas.
Nessas ocasiões irei fazer uma demonstração do jogo e dos vídeos que fazem parte do DVD.

Formosos Monstros - Lançamento do DVD-ROM

Quem nunca criou um monstro na sua imaginação? Essas criaturas fantásticas estão presentes no imaginário do ser humano, desde sempre. Crescemos vendo monstrinhos embaixo da cama, em cima do guarda-roupa, parado ao lado da porta, com o “olhão” aberto a nos espiar.

É do universo dessas criaturas irreais que se trata nesse DVD-ROM e a criança poderá interagir com eles, ou seja, jogar, porque é um jogo. Mas também um DVD de narração oral digital. É literatura falada. É uma mistura de tudo isso.

A criança irá se encontrar com criaturas que surgiram mundo afora, em outros tempos. Algumas, mais distantes no tempo, que outras, mas não menos fantásticas e assombrosas, já que para ser um monstro é preciso fazer parte do bizarro, estar fora do que é conhecido e aceitável por nós.

Lá está o Aho Aho, Borametz, Esfinge, Centauro, Polifemo, Ciclope, Yeti, Cihuateteo, Unicórnio, Behemoth, Mandrágora, Cavalo-do-mar, Catoblepas, Cobra Norato, Ammit, Leviatã, Fenrir, Bunyip, Cérbero, Trempulcahue, Kukulcan, Matintaperera, Basilisco, Grifo, Roca, Dragão, Salamandra, Curacanga, Fênix, Kali e Octopés, esse um desconhecido, até agora.


Uma deles, com certeza, desconhecida, Octopés, minha cria. Empolgada com tanta esquisitice resolvi inventar o meu.

- Então divirta-se e depois crie o seu.

Você  poderá assitir vídeos do DVD no site www.cleobusatto.com.br e também no http://www.youtube.com/clbprodu

1 de mar. de 2010

Segunda é dia do terceiro manifesto...






O Contador de Histórias nos faz sonhar porque ele consegue parar o tempo, nos apresentando um outro Tempo.

Busatto, Cléo. Contar e encantar - pequenos segredos da narrativa. Vozes, 2008

Oralidade na primeira infância

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