28 de set. de 2010

Salvador, intensa e afetuosa


livraria LDM, gentileza e cuidado

Com quantos fios se tece um caminho? Essa história começou com um email que foi parar na caixa de spam. Era o Boletim Maio 2009 - Novas tecnologias: o confronto entre o tradicional e o contemporâneo.  Quem recupera o email e me responde é Luciene, professora de EAD e aluna do doutorado na UFBA. O livro Arte de contar histórias no século XXI faz parte da bibliografia da sua pesquisa. Ela solta uma fala despretensiosa, algo como ir à Bahia e a trama começa a se formar, fluida e contínua, com interrupções para reflexão e tempo de descanso. Palestra no departamento de Educação da UFBA. Entrevista virtual para os alunos da FTC-EAD. Narração de histórias na rede.

oficina na escola Arco-Íris
Luciene chama Lena. Lena junta seus delicados fios e vamos parar na Arco-Íris (ou seria no arco-íris?). Um ponto a mais, o lançamento de O florista e a gata. Outro nó, oficina de narração oral. Ações se desdobram. Possibilidades se abrem. Lena chama Thereza. Thereza junta-se a nós, outros fios, cores, texturas. Mais uma fala, agora aos professores dos CREAs. Doação. O foco? Para mim difundir saberes, promover trocas, ampliar relações pessoais. E nesse imaginário embarco para Salvador. 
uma princesa nesse caminho

Já no primeiro dia esse tecido se ampliou. Chega Daday e me carrega para o IAT. Conjunção feliz, minha presença, Práticas de oralidade na sala de aula, participantes do projeto Gestar em formação na cidade. Lá vou eu. Atravesso a cidade quente e encontro ainda mais calor. Esse povo vive sob bençãos divinas. Tudo é cheiro, abraço com vontade e sorriso. Olha o que o sol faz com a gente!

 olhinhos

Afeto se manifesta na relação. Criança sabe disso. Eles chegam pro bate-papo, participam. Ao ler Dorminhoco e falar sobre os sonhos do Bernardo, um pequeno dispara uma observação de gente grande, "e não dá pra controlar os nossos sonhos". Outro se anima e acrescenta "às vezes se acorda assustado, é que foi um pesadelo". Leitura dos livros. Com quantos tic tac se faz um som? Nós fizemos.


Uma pausa para arranjos.

Na UFBA sensibilidade transpassando saberes. Apresentação com cara de tempo presente. Tic tac tic tac... a casa era toda tic tac... a casa era o próprio tempo. Lá, suspendemos o tempo e a narrativa revelou a dimensão que é permeada pelo simbólico. A gente vive se reinventando. Lembrei minha história de leitora. Existe história fundante, sim. Não se dá conta de imediato. Mas um dia resignificamos nosso momento e a encontramos lá no fundo, quietinha e silenciosa, aguardando o instante pra se revelar e dizer, sim, eu fui a sua história primeira, seja bem vinda, ao mundo, menina, agora você pode escrever histórias.

  
noite de lançamento de O florista e a gata

... entre um autógrafo, uma fala, uma dúvida, um passeio (e foram tantos!) olhares se perpetuam. 
Salvador pode ser isso


ou isso.


Também assim

 

e assim!


Salvador e seu povo é. E eu, gratidão.

25 de set. de 2010

Para ter acesso a novas formas de ver o mundo

http://www.gazetadopovo.com.br/gaz/gaznopapel/conteudo.phtml?tl=1&id=1050241&tit=Para-ter-acesso-a-novas-formas-de-ver-o-mundo
Divulgação / Cléo Busatto: a contadora de histórias estará presente todos os dias na Bienal
Cléo Busatto: a contadora de histórias estará presente todos os dias na Bienal

Cléo Busatto, catarinense radicada em Curitiba, é quase sinônimo de contação de histórias. A relação dela com o universo da leitura é tão profunda, que a organização da Bienal do Livro Paraná a convidou para ser a curadora do Espaço da Criança (Circo das Letras), que oferecerá ampla programação a leitores de 8 a 12 anos, conteúdo que também poderá ser usufruído por curiosos de todas as idades.

No dia 2 de outubro, ela participa, ao lado de Rodrigo Lacerda, da mesa-redonda Pequenos Leitores, Grandes Leitores. A mediação do encontro será do editor do GAZ+, Cristiano Luiz Freitas. A seguir, algumas ideias de Cléo:

O que uma pessoa, de qualquer idade, ganha participando da Bienal do Livro Paraná?
Ganha conhecimento, amplia sua consciência ética e estética. Frequentando espaços dessa natureza, uma pessoa entra em contato com pensamentos, pensadores, outras formas de ver o mundo. Ao visitar um evento desse gênero, saímos de uma existência autocentrada e provinciana e nos damos conta da grandeza do ser humano.

Isso quer dizer que circular em meio a livros e escritores faz bem à saúde?
Muito. A gente só tem a ganhar com um bom livro. Dia desses, uma pessoa me falou que tudo o que ela é e aprendeu, deve aos livros. Ela vem de uma família não ledora e pouco participativa. Então, foi buscar nos livros a base para a sua autoformação. Estamos sempre aprendendo a ser, criando sentidos para aquilo que vivemos e num processo continuado de aprendizagens. A literatura se encarrega de nos auxiliar nessa caminhada. Ela nos pega pela mão e diz, venha, isso é o que eu tenho a lhe mostrar, e agora você cria o sentido que melhor se encaixa na sua existência.

Cléo, é possível afirmar que o simples fato de frequentar um ambiente como o da Bienal do Livro Paraná já deixa a pessoa com vontade de ler?
Com certeza. Só o fato de frequentar ambientes onde o livro se faz presente já desperta o desejo de ler. Eu aprendi a ler sozinha, aos três anos e meio, simplesmente por crescer num lar que tinha livros, revistas por todo canto. Meu pai lia Seleções, O Cruzeiro, romances. Eu vivia com as revistinhas infantis em torno de mim. Os armários continham livros. Minha mãe era professora, seu mundo girava em torno das letras. Meu irmão foi um grande leitor. Eu li Os Miseráveis, de Victor Hugo, com oito anos. Estava lá. Bastava apenas tirar da estante. A história me envolveu, encantou, chorei com a personagem infantil, a sua dor pela perda da mãe.

22 de set. de 2010

Salvador, dia 22, escola Arco-Íris promove a literatura

A Arco-Íris estava lotada na sessão de autógrafos realizada agora à noite. Pais e filhos em torno do livro literário.
Amanhã vou conversar com as crianças, apresentar os CD-ROMs, falar de coisas que eles gostam, monstros, aventuras, bichos.
A gente vai se encontrando nas identificações. Compartilhamos pequenos segredos, enquanto faço o autógrafo. Pergunto para uma, o que quer que eu escreva como dedicatória do seu livro?  Ela pensa um pouco e responde, eu também gosto de flores.
Pronto, criou-se o laço.



À tarde o papo foi com professores da rede municipal e pela manhã entrevista para os alunos de Pedagogia do ensino a distância da FTC-EAD. Amanhã tem mais.
Meus anjos em Salvador: Luciene, Lena, Thereza.
Que trio abençoado pelos Orixás.
Some-se a elas, o carinho do pessoal da LDM e da Arco-Íris e o sol de Salvador.                                                           

20 de set. de 2010

Em BH sob o signo da letra A

Abriu-se a roda. Ledor, leitor e leituras. Soltou-se o abecedário num anseio de abarcar, abraçar essa arte que é a literatura. A atmosfera transcendia afetuosidade e alegria. Desse jeito dá para fazer bonito e ao narrar e ler histórias, acolher o outro com palavras amáveis, que acarinham, acalmam e acalentam. Havia abertura para assimilar novos olhares, aglutinar conhecimento, viver a alteridade sugerida pelo texto ficcional e ampliar o horizonte pessoal através daquilo que um bom livro nos apresenta.

Abracadabra... no instante seguinte tudo aquilo virava arte, ainda que sob uma abordagem educacional (pois predicava-se, elaborava-se conceitos, apresentava-se saberes formais, aclarava-se os informais, transformava-se conhecimento em sabedoria), afinal arte, educação, cultura são apenas fios de um mesmo tecido prenhe de sentidos, ao qual se batizou linguagem.

Tudo isso acompanhado pela atenção de um povo abençoado, que acaricia e aconchega. Aceitação e admiração. Alguém diz, é porque você é apaixonada pelo que faz. Como não ser, se a história acende faíscas de compreensão dentro de mim? Isso é o que doo aos que estão à minha volta e quando se trilha caminhos com alma, só pode-se agradecer a vida por tantos presentes. E ser grata aos acompanhantes de todas as horas, as matolinhas de biscoito de mandioca, a letra A de chocolate que surgiu na xícara de café, a paçoca com a marca Amor. Agradeço ao convite da Diretoria de Literatura e da amável equipe da BPIJBH e cada um de vocês que esteve comigo.

Diante dessas impressões, só posso afirmar que BH se fez sob o imaginário da letra A.


 

17 de set. de 2010

Curitiba será palco da festa da Literatura

Cléo Busatto comanda a atividade Formosos Monstros, um dos destaques do Circo das Letras

Mundo de fantasia para as crianças

É uma unanimidade entre educadores: gostar de ler deve ser estimulado na infância. De olho nisso, a 1.ª Bienal do Livro Paraná preparou uma programação caprichada para as crianças. Todos os dias haverá apresentações de música, contação de histórias e atividades interativas com os pequeninos (a partir de 5 anos), no chamado Circo das Letras. A ideia é mostrar a Literatura de um jeito diferente – ainda mais divertida e atraente.
A curadoria do Espaço da Criança fica por conta da escritora e mestre em Teoria Literária Cléo Busatto. “O pensamento da criança é simbólico. É por meio dessas mensagens de fantasia que ela se identifica. Quando centramos um determinado assunto no fantasioso, no mágico, ela capta com mais facilidade”, explica.
Em um dos espetáculos, “Entrelinhas melódicas”, a compositora e professora de canto Edith de Camargo irá, com acordeão e xilofone, interpretar canções infantis e textos lidos por ela e pelas crianças da plateia. Em outro, “Onde nascem as histórias?”, as crianças irão acompanhar a personagem Beatriz em sua busca sobre o que é necessário para escrever um bom livro. A atividade será encenada pela Cia. Mínima de Teatro.

Fórum juvenil

Além dessas atividades, a Bienal terá o Fórum de Literatura Infantil e Juvenil – em que professores e demais participantes realizarão um bate-papo com escritores, ilustradores, cineastas e pesquisadores de educação. Nesta edição, o tema será “O que é qualidade na produção artística e literária para crianças e jovens?”. Nos dias 5 e 6 de outubro, a pesquisadora e escritora Ieda de Oliveira comanda a discussão, com participação de Cléo Busatto, da escritora Heloisa Prieto, da ilustradora e artista plástica Márcia Széliga, do cineasta Paulo Munhoz e dos professores doutores Alice Áurea Penteado e João Luis Ceccantini.

http://www.gazetadopovo.com.br/ensino/conteudo.phtml?tl=1&id=1046680&tit=Curitiba-sera-palco-da-festa-da-Literatura

11 de set. de 2010

Tem de quinze? ou a história do leitor montando sua biblioteca.

    A conversa rolava solta com as crianças. Eram pequenas, entre seis e nove anos. Eu oferecia histórias. Algumas inventadas por mim, outras de verdade. Tinha também histórias dos outros, criadas em idos tempos. Elas saboreavam o instante, com aquele jeito assombrado, único das crianças que estão a descobrir coisa nova, e estampavam o olhar maravilhado de quem está se deleitando com a descoberta. Sentadas na beirada das cadeiras, pezinhos balançando, olhos estateladamente brilhantes sobre mim. Uma mão brinca com partes da roupa, agarra-se nas cadeiras quando bate o medo, porque tem disso, conversa para ser boa deve vir recheada de todos os tons: os que fazem rir e chorar; os que despertam o medo, a ternura e a compaixão. Perdidos num tempo mágico, eu e eles, compartilhávamos uma única emoção – aquela que vem com as histórias. E que bom estava sendo. Eu ria com suas carinhas e eles riam da minha. Intenções diferentes movidas pelos mesmos temas.

     Lá pelas tantas o comentário animado de um pequeno, “eu tenho cinco mil livros”... uia... é história pra lá de mil e uma noites. Então vamos. Como nascem as histórias? Como surgiu a história de Pedro e seu recém-inventado Cruzeiro do Sul, com aquela estrelinha a mais, no meio da constelação? E a aventura de Lidia-gata e sua patinha macia roçando o olho, seu pulo elegante ganhando a noite alumiada pelo prata da lua gorducha pendurada no céu? Como se desdobram as noites do também pequeno Bernardo, com seus sonhos coloridos pela coragem e companhia do leão de estimação? Quanta história pra contar! E a minha história de menina construindo mundos inverossímeis acarinhada por mim mesma, na cadeira de balanço da varanda perfumada pelas gloxinias de mamãe?

     Papo vai, papo vem, papo acaba e eu digo, quem tiver livro e quiser autógrafo pode chegar aqui. Abraços, beijos e a voz de um deles. “Quanto custam os livros?” “Ah, cada um tem um preço”, respondo. “Tem de quinze?”, pergunta ele sem titubear. Penso rápido e invento preço para viabilizar o desejo do menino. “Sim, o CD dos monstros custa quinze”. “Então eu quero um”. Entrego o CD para ele e ele me dá duas moedas, uma de dez e outra de cinco. Ele pega suas histórias. Satisfeito abre o sorriso. Afinal serão mais 32 que se juntarão às cinco mil que ele já tem. Olho para as moedas e meus olhos se enchem de lágrimas. Meu pequeno leitor, criança mágica, verdadeira e encantada! As histórias têm seu preço, mas o preço real é a vontade do leitor em estar com elas.

Oralidade na primeira infância

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