No Caderno G Ideias, Gazeta do Povo, 8 de janeiro, artistas do Paraná discutem os rumos da cultura no próximo governo. Em tempos de fomento da leitura literária, um entrevistado diz que "é preciso evitar essas bienais de livro, que são caça-níqueis de empresas de fora do estado (...)", etc etc etc.
Não concordo com essa declaração. Considero-a xenofóbica e retrógrada. Ora, uma feira de livro serve justamente para o escritor se relacionar com seu leitor, veicular suas ideias, além de divulgar e vender seu livro. Esses espaços são necessários, ainda que venham na roupagem comercial. Não dá para dissociar cultura da dimensão econômica. Ela é apenas uma parte dessa cadeia de promoção do livro e da leitura. Temos mais é que ter uma, duas, dez feiras anuais, que promovam o livro e estimulem a sua circulação.
Essa visão provinciana mantém o livro na categoria de uma produção cultural elitista e privilégio de poucos, invés de vê-lo como um produto ao alcance de todos. Não dá para esquecer que as últimas pesquisas sobre leitura revelam que apenas metade dos brasileiros é leitor, considerando leitor o sujeito que leu ao menos um livro nos últimos três meses.
É importante que o livro – e aqui abro um parêntese para o livro literário – ocupe o imaginário das pessoas e passe a fazer parte do seu cotidiano, como faz a televisão, o rádio, o cinema. A Bienal do Livro do Paraná, em 2010, foi visitada por cerca de 10.000 crianças. Praticamente 90% delas vieram das escolas públicas e posso afirmar que 70% dessas crianças nunca tinha ido a um espaço de livros, seja uma feira ou até mesmo uma livraria.
Com certeza deve-se associar o livro à educação e criar mecanismos para sua fixação na comunidade. A política cultural deve prever ações nas bibliotecas e noutros espaços onde ele se encontra, como bate-papo com autores, círculos de leitura em voz alta (mediada por um adulto, quando se trata do público infantil), rodas de história e associar o livro à outras manifestações artísticas. Como também estabelecer ações que democratizem e facilitem sua aquisição, como o seu barateamento, a instituição de vale-livro. Aliás, o livro deveria fazer parte da cesta básica do brasileiro.
Afinal, só nos tornaremos um país de leitores se tivermos o livro em mãos, para ler. Leitor se forma lendo.
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ResponderExcluirConcordo com sua opinião. As crianças deveriam ser sempre incentivados a ler. E vejo bem que a ideia de uma feira de livro não se restringe a comprar livros e sim para trocarmos idéias e conhecimentos com os autores e leitores, e de fato deveria existir não apenas uma feira e sim duas ou três feiras durante o ano. Porque como você ponderou, só nos tornaremos em um país de leitores com um livro na mão, para aguçar a imaginação e conhecimento sobre o mundo.
ResponderExcluirUm belo texto !
Um grande Abraço
Camille Miranda