31 de mar. de 2011

Entrevista Rádio UEL FM - 2ª parte

A escritora Cléo Busatto, catarinense que vive em Curitiba, teve duas de suas obras selecionadas para a Feira de Bolonha.Nesta 3a, quando veiculamos a segunda parte da entrevista, Cléo (foto) explica por que conta histórias. E revela como a menina que leu com menos de 4 anos de idade se transformou na mulher escritora.

http://www.youtube.com/watch?v=x8bDiWuXUck

29 de mar. de 2011

318 anos - olhares para Curitiba - Curí - Tim

olhar de Cadi Busatto - kaingangs no século XXI
Curí -Tim
olhar do Kaingang

Há muitos e muitos anos, essa terra, hoje chamada de Curitiba, foi habitada pelos Kaingang. Era uma terra fértil e disputada. Os pinhais se estendiam por toda parte. Na época das frutas apareciam caças e havia comida farta para os moradores.
O povo Kaingang vivia em harmonia e a natureza tudo lhe ofertava. Mas isso durou pouco. Logo, os portugueses que habitavam o litoral subiram a serra e começaram a disputar a terras, dificultando a vida do povo indígena, que resolveu se mudar para a região do Ivaí. Diante dos portugueses, o chefe Kaingang fincou no chão o seu bastão de chefe guerreiro e em sinal de paz exclamou:
- Curí-tim! que significa, vamos, depressa.
A vara fincada no chão brotou e floresceu. Os portugueses viram nisso um sinal de que ali brotaria uma grande cidade.O homem branco, que não conhecia a língua do povo Kaingang entendeu que Curí-Tim era o nome dado àquela terra.
Foi o povo Kaingang que deu nome a essa cidade, que a partir daí passou a se chamar Curitiba.

Lenda narrada Paulino Arakaxó, descendente do chefe indígena Kaingang, que cedeu aos portugueses o domínio da região onde se encontra a cidade de Curitiba.

27 de mar. de 2011

318 anos - olhares para Curitiba - Barigui

olhar de cadi Busatto
Barigui
olhar de Rubens Gennaro

Quando consigo um tempinho e vou ao Parque Barigui caminhar ou correr. Entre os cromatismos verdes das laterais, vou passeando meu  par  de tênis nas pistas adequadas. Sorver oxigênio com cheiro de mato, até os pulmões estufarem. Com a respiração  normalizada após o aquecimento inicial, lá vou eu, jovem atleta cinquentão. Sôfrego às vezes, é verdade, mas atleta.  Atletinha. Meia boca. Herói de mim mesmo. É preciso malhar para tirar a barriguinha teimosa.
Ufa! Quem diria hein, mamãe, papai.  Eu caçula da família....e já cinquentão?  Cuidado com a hipertensão, avisa o amigo médico.  E as frequências cardíacas? Vão bem! Estou ali, deliciando-me com o entorno, na vertical. E meu olhar inebria-se com as formas femininas das atletas que me ultrapassam aceleradas. Glúteos e ancas indo. Peitos e pélvis vindo. Cabelos ao vento. Suarentas. Perfumadas. Mulheres. Jovens ou idosas. Muitas caminham, outras correm. Todas vivas. Com sede de viver. Todas maravilhosas. Seja qual for a idade ou classe social. Sim. Divas de um jardim do Éden. Naqueles instantes sou parte deste. Eros me diz o quanto estou vivo. Misericórdia, pelos pensamentos voluptuosos. Há famílias, crianças... Respeito  moleque, respeito, moleque sem vergonha, diria minha saudosa mãe! Penitencio-me.
Às vezes abre o sol, o céu azul celeste reflete-se nos espelhos d’água. Seja do lago ou dos córregos que  sinuosos compõem o parque. Agora que as águas de março estão a fechar o verão, diria o mestre da Bossa Nova. Assim, as pinturas em aquarela ou a óleo podem sair melhor aos olhos dos artistas de plantão. Em qualquer perspectiva. Bípede que penso ainda ser (há tempos desconfio ser mesmo, um quadrúpede asinino, há os que podem confirmar), vislumbro na paisagem outros bípedes: garças brancas a voarem livres pelos céus do entorno. Imagino suas perspectivas de olhos  de  pássaros. Vejo patos, gansos, sapos e rãs nos espelhos d água. Perspectivas de um ou dois focos? E os  peixes, como nos vêem? Pergunto-me, será que Brunelleschi também pensou nisto, lá em Florença, ao formatar as leis óticas da perspectiva? Creio que sim, respondo-me. Com certeza.
Ah! Sim. Os aviões em sobrevôo entram no cone de aproximação para o Aeroporto Affonso Penna. Desaceleram mais o menos por ali, sobre o Barigui. Turbinas  gemem mais lentas. Então é possível ver estes pássaros metálicos nas suas geometrias, descrevendo suas senóides descendentes, vez ou outra, refletidas na superfície do lago. E as nuvens?  Brancas, azuladas, acinzentadas, diversas cores e formas. Depende do sol. Da chuva. Do vento.
Sim. Poderia descansar um pouco o esqueleto sob  a sombra  de uma árvore típica e contar carneirinhos, vendo o azul e o branco do céu, e dormir sobre a relva. Mesmo porque, ainda existe essa possibilidade relaxante. Até quando haverá a tal segurança, não sabemos. Minhas irmãs quadrúpedes com cara de rato, as lindas capivaras cinzas ou marrons de lama, banhando-se de sol, ignoram-me, silenciosas, estáticas. 
Mas e o jacaré?  Se estivesse aqui,  Johnny Weissmuller talvez pudesse rodar umas cenas de Tarzan. Sim, pois temos até macaquinhos pendurados nas árvores. E o pipoqueiro atende solicito uma criança. O sorveteiro, várias outras.  Alguém atira pipocas aos patos.
Assim a geometria, as cores, os aromas e os sons do parque nos acalmam e reenergizam. Alguém  desliza sobre patins rapidamente.  Coxas fortes e sinuosas de mulher. Aquelas rodinhas  a deslizar! E  minha roda do tempo a lembrar-me, de que há quase trinta anos, o Parque Barigui foi criado sob suspeições políticas de sempre. 
Aquele banhadão, cheio de cloacas e capivaras não valeria nada. Um charco. Uma maracutaia. Uma grande jogada do prefeito espertalhão da época. Um alcaide marqueteiro em negociatas escusas, diriam os opositores niilistas de então. Diriam. Disseram. Palavras ao vento. Voláteis.
E aqui estamos hoje, ainda desfrutando desse maravilhoso jardim, denso de vidas e amores. Saudável pulmão da urbe Curitiboca, onde convivem e interagem  seres de diversas origens, sexo, ideologias, raças e cores. E eu olho para o céu. Tento achar um anjo, um querubim qualquer que possa levar uma mensagem de agradecimento a Deus. Sim, ao nosso amigo todo poderoso. Sim, eu sei ninguém é perfeito. Nem o urbanista.
- Senhor! Meu Caro Grande Arquiteto do Universo, envio-lhe respeitosamente este oficio. Agradeço-lhe em meu nome e de todos os usuários anônimos que conheço, por usufruir esta maravilha! E até da possibilidade de eu, sapo no banhado, virar príncipe via beijo de uma princesa, bela, rica e inteligente. Agradeço a Jaime Lerner e equipe, o privilégio de desfrutar um pouquinho do Parque Barigui. Glória e louvor a Curitiba, 318 anos. Amém!

25 de mar. de 2011

318 anos - olhares para Curitiba - detalhes


olhar de Cadi Busatto
Detalhes
olhar da Cléo


Por aqui é uma chuva só. Até dizem que é a cara da cidade. Quando o sol aparece é uma alegria. Acorda as energias adormecidas. E hoje ele apareceu. Fui andar e meditar pelos cantinhos da cidade. Quando a gente se desvia do caminho em linha reta se coloca no caminho do imprevisível. É aí que pode se ouvir os acordes de piano se misturando aos piados dos pássaros. Curitiba se revela nos detalhes.

17 de mar. de 2011

Andar no caminho de dentro (Boletim Março)

Minha relação com a terra é visceral. Sinto necessidade de ter os pés grudados no chão. Talvez por isso goste tanto de caminhar. Já saltei de paraquedas e mergulhei fundo no oceano. Mas o elemento que mais se aproxima da minha essência é a terra. Nela me reconheço e me encontro. Se não estou bem vou andar e logo, a terra-mãe traz a recuperação. Se estou bem vou andar e logo, ela promove a criação.
Para mim, o ato de andar está ligado ao conceito de peregrinação, enquanto metáfora do movimento de caminhar para dentro, em direção à alma. Quando caminho, não importa se no campo ou na cidade, na praia ou nas montanhas é para minha vida interior que estou caminhando. No silêncio do andar, entro num estado meditativo e contemplativo. Nele me reencontro, me regenero, restabeleço a ordem e me energizo. 
Caminhar me leva àquele espaço entre mundos, onde me reconheço criadora e criativa. Nesse movimento ritmado e constante há uma alteração da consciência e dela surgem insights, brota a inspiração e a clareza. Quando acordo embaralhada pelas imagens noturnas, minha natureza pede o andar. A voz diz, agora levanta dessa cama e vai caminhar! Ouvir e respeitar essa voz sempre me conduz ao lugar certo.
Devagar, vou introjetando essa sabedoria e fazendo dela minha bússola. Reconhecer o que se aproxima da alma e promove o equilíbrio emocional é uma das tarefas do homem contemporâneo, já que se vive nesse rocambole de efeitos especiais, montado com o excesso de informações, superficialidade (e tragédias!). Se para isso o caminho é andar, que se ande.

15 de mar. de 2011

Entrevista Rádio UEL FM - 1ª parte

Modos de Vida desta terça-feira, dia 15, traz dois assuntos - uma conversa, por telefone,
com a escritora Cléo Busatto, que vive em Curitiba; e o som de um quarteto de jazz que nasce em Londrina: o Repentemudo.
Cléo Busatto teve dois livros selecionados para a feira internacional infanto-juvenil de Bolonha, na Itália, de 28 a 31 deste mês, e é uma vitrine internacional.
Na entrevista, ela conta o que significa ultrapassar fronteiras com sua literatura e como se nutre das histórias e afetos das pessoas para criar suas próprias narrativas.
O Modos de Vida é apresentado por Patricia Zanin.

http://www.uel.br/uelfm/audios/9850-Cleo_Busatto_e_jazz_com_Repentemudo_15-3.mp3

10 de mar. de 2011

Tempo de Peixes

Très Riches Heures


O tempo de Peixes é o da transcendência, do sonho,
das águas profundas de Netuno.
É o caminho para a alma. Ter fé. Eu acredito, diz Peixes.
Tempo de dissolução do ego e fusão com algo maior, o Self.
Tempo de Peixes é o do amor universal, de ir ao encontro da totalidade, de se tornar maior que si ao se doar ao todo.
Tempo de retornar à fonte original e encontrar a divindade em Si
e se fazer sagrado.
Tempo de amorosidade com todos os seres do Universo.
Ou é isso ou a fuga por caminhos duvidosos.
Peixes que se quer bem, mergulha nas águas da espiritualidade,
e ama....

"Se as portas da percepção fossem desobstruídas, tudo apareceria ao homem como é: infinito."
                                                                                   William Blake

A fofa do terceiro andar

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