27 de mar. de 2011

318 anos - olhares para Curitiba - Barigui

olhar de cadi Busatto
Barigui
olhar de Rubens Gennaro

Quando consigo um tempinho e vou ao Parque Barigui caminhar ou correr. Entre os cromatismos verdes das laterais, vou passeando meu  par  de tênis nas pistas adequadas. Sorver oxigênio com cheiro de mato, até os pulmões estufarem. Com a respiração  normalizada após o aquecimento inicial, lá vou eu, jovem atleta cinquentão. Sôfrego às vezes, é verdade, mas atleta.  Atletinha. Meia boca. Herói de mim mesmo. É preciso malhar para tirar a barriguinha teimosa.
Ufa! Quem diria hein, mamãe, papai.  Eu caçula da família....e já cinquentão?  Cuidado com a hipertensão, avisa o amigo médico.  E as frequências cardíacas? Vão bem! Estou ali, deliciando-me com o entorno, na vertical. E meu olhar inebria-se com as formas femininas das atletas que me ultrapassam aceleradas. Glúteos e ancas indo. Peitos e pélvis vindo. Cabelos ao vento. Suarentas. Perfumadas. Mulheres. Jovens ou idosas. Muitas caminham, outras correm. Todas vivas. Com sede de viver. Todas maravilhosas. Seja qual for a idade ou classe social. Sim. Divas de um jardim do Éden. Naqueles instantes sou parte deste. Eros me diz o quanto estou vivo. Misericórdia, pelos pensamentos voluptuosos. Há famílias, crianças... Respeito  moleque, respeito, moleque sem vergonha, diria minha saudosa mãe! Penitencio-me.
Às vezes abre o sol, o céu azul celeste reflete-se nos espelhos d’água. Seja do lago ou dos córregos que  sinuosos compõem o parque. Agora que as águas de março estão a fechar o verão, diria o mestre da Bossa Nova. Assim, as pinturas em aquarela ou a óleo podem sair melhor aos olhos dos artistas de plantão. Em qualquer perspectiva. Bípede que penso ainda ser (há tempos desconfio ser mesmo, um quadrúpede asinino, há os que podem confirmar), vislumbro na paisagem outros bípedes: garças brancas a voarem livres pelos céus do entorno. Imagino suas perspectivas de olhos  de  pássaros. Vejo patos, gansos, sapos e rãs nos espelhos d água. Perspectivas de um ou dois focos? E os  peixes, como nos vêem? Pergunto-me, será que Brunelleschi também pensou nisto, lá em Florença, ao formatar as leis óticas da perspectiva? Creio que sim, respondo-me. Com certeza.
Ah! Sim. Os aviões em sobrevôo entram no cone de aproximação para o Aeroporto Affonso Penna. Desaceleram mais o menos por ali, sobre o Barigui. Turbinas  gemem mais lentas. Então é possível ver estes pássaros metálicos nas suas geometrias, descrevendo suas senóides descendentes, vez ou outra, refletidas na superfície do lago. E as nuvens?  Brancas, azuladas, acinzentadas, diversas cores e formas. Depende do sol. Da chuva. Do vento.
Sim. Poderia descansar um pouco o esqueleto sob  a sombra  de uma árvore típica e contar carneirinhos, vendo o azul e o branco do céu, e dormir sobre a relva. Mesmo porque, ainda existe essa possibilidade relaxante. Até quando haverá a tal segurança, não sabemos. Minhas irmãs quadrúpedes com cara de rato, as lindas capivaras cinzas ou marrons de lama, banhando-se de sol, ignoram-me, silenciosas, estáticas. 
Mas e o jacaré?  Se estivesse aqui,  Johnny Weissmuller talvez pudesse rodar umas cenas de Tarzan. Sim, pois temos até macaquinhos pendurados nas árvores. E o pipoqueiro atende solicito uma criança. O sorveteiro, várias outras.  Alguém atira pipocas aos patos.
Assim a geometria, as cores, os aromas e os sons do parque nos acalmam e reenergizam. Alguém  desliza sobre patins rapidamente.  Coxas fortes e sinuosas de mulher. Aquelas rodinhas  a deslizar! E  minha roda do tempo a lembrar-me, de que há quase trinta anos, o Parque Barigui foi criado sob suspeições políticas de sempre. 
Aquele banhadão, cheio de cloacas e capivaras não valeria nada. Um charco. Uma maracutaia. Uma grande jogada do prefeito espertalhão da época. Um alcaide marqueteiro em negociatas escusas, diriam os opositores niilistas de então. Diriam. Disseram. Palavras ao vento. Voláteis.
E aqui estamos hoje, ainda desfrutando desse maravilhoso jardim, denso de vidas e amores. Saudável pulmão da urbe Curitiboca, onde convivem e interagem  seres de diversas origens, sexo, ideologias, raças e cores. E eu olho para o céu. Tento achar um anjo, um querubim qualquer que possa levar uma mensagem de agradecimento a Deus. Sim, ao nosso amigo todo poderoso. Sim, eu sei ninguém é perfeito. Nem o urbanista.
- Senhor! Meu Caro Grande Arquiteto do Universo, envio-lhe respeitosamente este oficio. Agradeço-lhe em meu nome e de todos os usuários anônimos que conheço, por usufruir esta maravilha! E até da possibilidade de eu, sapo no banhado, virar príncipe via beijo de uma princesa, bela, rica e inteligente. Agradeço a Jaime Lerner e equipe, o privilégio de desfrutar um pouquinho do Parque Barigui. Glória e louvor a Curitiba, 318 anos. Amém!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Oralidade na primeira infância

Arquivo do blog