14 de jun. de 2011

Desempacotar as emoções


Quando se está aberto para receber vem um presente atrás do outro. Maio foi o mês de Itaguaçu. Quinze dias na cidade de quinze mil habitantes, plantada no interior do Espírito Santo. Bendito Espírito Santo. O que coloca no meu caminho mil e quinhentas crianças encantadas, pequenas faíscas de luz pipocando em olhos multicoloridos? Quando estamos prontos, as coisas chegam redondinhas, saborosas, feito os quitutes da cidade. Ah, os pães de Itaguaçu... Só mesmo mãos generosas para sovar aquela maciez. E os presentes vêm na forma de fruta, doce, comida, sorrisos e abraços. A gente fica gorda de tanto afeto e o peito expande, quando se toma conhecimento dos significados que a Feira Literária lançou na cidade. Um menino diz que para ele, a feira despertou a beleza com o encantamento das apresentações e o sentimento espiritual. Ora, também fiz parte desse processo, que para essa criança se revelou no Belo e no Mistério e gerou sua fala inspirada, registrada num bilhete escrito a lápis e com letras tortas.

Depois, os presentes vieram do workshop de narração de histórias. Foram tantos. Uma participante diz, ela nos desempacotou. A menina de nove anos conta sua história com estrutura literária, e em seguida chora ao falar da saudade que sente do irmão, que morreu recentemente. Só dá mesmo para acolher e acalentar pela via do poético e do sensível. A história como sujeito. A memória como espaço mítico. A técnica como caminho. O repertório como meio. A narração como um ato de entrega. Foi por aí que a gente andou naquele final de semana friozinho e de céu azul.

Como dimensionar a forma com que nossa arte e expressão chegam até o outro? Como saber o que vamos provocar, quando desempacotamos emoções? Não sei. Sei apenas que é importante estar sempre como um grande coração, silencioso, escancarado, afável e receptivo. Aí não paramos de receber dádivas. E penso na formação do profissional da educação. Nas práticas e teorias, aprisionadas e empobrecidas, porque restritas a dualidade corpo/mente. E penso num processo por onde se pode transitar desse modelo binário de ver e atuar no mundo, para outro, circular e ampliado pelas múltiplas inteligências, pelas múltiplas dimensões, que abarca também o mítico e o sagrado no cotidiano. Dessa forma, dá para gente abrir as mãos e voltá-las para cima e aceitar o que vem do alto, ainda que isso nos provoque alguma dor. Mas só assim nos tornaremos mais inteiros e por fim mais felizes e gratos pelo que a vida nos dá.

2 comentários:

  1. Que gratificação: "desempacotamento" - isso é dádiva! Lindo trabalho, parabéns!

    ...aceitar o que vem do alto, ainda que isso nos provoque alguma dor.

    Bjos.

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  2. Obrigada Adriana, meu crinho por você.

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Oralidade na primeira infância

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