Taquille, Peru |
Quando viajo
olho para o alto. Lembro-me de uma conversa com um amigo durante uma viagem que
fizemos juntos à Nova Iorque há muitos anos. Eu, espantada e encantada com
cidade, enquanto ele dizia, Nova Iorque é uma cidade para se olhar pra cima.
De fato, ao levantar
os olhos, eu me dava conta da dimensão do World Trade Center, da torre da
Chrysler, do Empire State, da forma arrojada do Flatiron surgindo à minha
frente naquela esquina da 5ª Avenida.
Desde então,
quando passeio por lugares que não conheço, olho para cima e quanta surpresa isso
me reserva. Outros edifícios iriam me surpreender, não pelo seu tamanho, mas
pela arte emoldurada nas alturas. Dragões, seres alados, gárgulas, anjos,
personagens míticos pousando no topo dos prédios com seu carro divino. Poesia
estampada pertinho do céu. Descobri portais que se abriam para revelar a alma
de um povo e me colocar num imaginário totalmente novo para mim.
Ao mirar para o
alto pode se ver meteoritos, sim, Marta, como o que vi na Patagônia. Uma
luz cruzava o céu ao entardecer. Pasmos diante do inusitado, tocamos em sua
direção e fomos vê-lo desaparecer no horizonte, além do mar. Ao ler o jornal no
dia seguinte ficamos sabendo que era um corpo celeste visitando a terra.
É só elevar os
olhos. E se for à noite dá para relembrar as caras da lua, da minguante à
cheia. O céu está em verdade aberto,
vamos a ele, já disse Ovídio no texto que reproduzo na abertura do meu
livro Pedro e o Cruzeiro do Sul.
Porém, a
despeito do meu olhar treinado a se direcionar para cima durante as viagens, eu
me esquecia deste olhar no dia a dia, na minha cidade. Quando me dei conta
deste contrassenso passei a olhar para o alto, sempre, e ver belezas onde antes
não via, como pé de fruta na calçada. Fruta madura ao alcance da mão no centro
da cidade grande.
Inconscientes,
tornamos o dia a dia uma mesmice e passamos por ele sem perceber que o
cotidiano traz em si novidades que dão alento para a alma. Agora, treino meu
olhar para ver o por do sol da janela da minha casa, pelo corredor que abro com
os olhos por entre os prédios. Róseos azuis dourados tingindo a sala. Deixo-me
banhar pelas luzes filtradas pelas cortinas. Elas enchem de esperança o meu
espaço.
Aproprio-me
desta imagem, olhar para o alto, como uma metáfora para a ascensão da
consciência individual e percebo que estamos tão acostumados a olhar para
baixo, quando não para nosso próprio umbigo, que esquecemos que ao olhar para
cima veremos estrelas.
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