16 de mai. de 2011

Entusiasmo e a condição de se manter dócil

Às vezes temos a impressão de estar no olho do furacão. As coisas acontecem vertiginosamente, sem nos dar tempo para elaborá-las. É fácil ser tomado pela cólera, perder o rumo, a cabeça, o humor. Na manhã de embarque para Poços de Caldas, rumo a Flipoços, descobri que estava sem a carteira de documentos, cartões... esses passaportes para o cotidiano. Claro, não embarquei. No primeiro momento veio um ”não acredito, não acredito”. Atenção, Cléo. Respirar, rir e solucionar, dizia a voz pacificadora. E lá vou eu, noutro voo, no final do dia, com mais algumas horas de estrada pela frente, dormir tarde, acordar cedo, cansaço, etc etc etc. Se não fosse a falta de atenção poderia ter feito o mesmo trajeto com mais tranquilidade, dizia a voz crítica e julgadora. Serena, serena, sugeria a voz do bem. E nesse impasse com as vozes internas, cheguei à cidade, até mais cedo do que previ. Cai num sono intenso.


No dia seguinte, a poucos momentos da abertura do evento, me dei conta que estava feliz por estar lá e falar aos professores sobre esse assunto que me encanta: oralidade e leitura literária. Mas, mais feliz ainda eu estava, por ter vivido os imprevistos do dia anterior com calma e por ter mantido a doçura comigo mesma. Naquele momento eu estava bem e alegre e era esse ânimo, essa energia que permearia minha fala. Assim foi. Deslizou.

Mais tarde, andando de volta ao hotel, cruzei com um professor que estava na palestra. Ele veio me cumprimentar e observou que meu entusiasmo foi contagiante. Sim, eu disse, acho importante estar neste estado de exaltação do espírito, por que isso implica em manter vivo o sopro criador, que nos faz cúmplices e participantes da vida. Entusiasmo é a força que me inspira, anima e me propulsiona a criar com amor. Isso quer dizer carregar Deus dentro de mim. Não dá para negar a dimensão do sagrado, nem mesmo numa fala científica. Creio que essa realidade deve ser vivida no dia-a-dia, não apenas nos templos. Sem ela a vida se torna árida e sem sentido.

Reafirmo em cada encontro literário, em cada discurso sobre os efeitos e afetos da leitura literária, a urgência em recuperar as dimensões não passíveis de experimentação, mas tão reais quanto distinguir um copo de água de um copo de vinho. Pneuma e psyché devem voltar a andar juntas com soma. Esse é o desafio da educação na contemporaneidade, integrar o que foi fragmentado e humanizar o ato de educar. Entusiasmar meus comparsas, esse é o tom.


Dias 4 e 5 de junho, workshop Contar e Encantar, em Curitiba.

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