A vida é assim. Simplesmente decifrável. Você
sorri, ela sorri. Você faz cara feia, ela faz outra ainda mais. A maioria
de nós, artistas, escritores, queremos transformar o mundo com a nossa arte,
mas esquecemos de que a primeira coisa a ser feita é, antes de tudo, nos
transformar. Repetimos velhos padrões e mantemos posturas ultrapassadas, como a
cultura de falar mal, ser do contra, seja de quem ou do que for. Nessa dinâmica
falamos mal de nós mesmos. Ainda assim queremos fazer a diferença.
Existem muitos índices e pesquisas para
comprovar como lemos mal, como lemos pouco, como somos toscos e inacabados,
como falta... falta... falta... falta... falta... educação, cultura, pão, arte...
etc etc etc.
Existem poucos índices e pesquisas para
mostrar quanto projeto ainda que sem expressão nacional, sem repercussão na
mídia, sem voz nas feiras e bienais de livros, se faz pelo Brasil adentro, e
que muda, efetivamente, àqueles que participam dele. Quanta criança lê mais e melhor,
porque tem ao seu lado uma professora, uma mediadora de leitura, uma contadora
de história, ainda que sem técnica e reflexão, mas que introduz as crianças na
subjetividade transdiciplinar do texto literário.
Mantemos um discurso construído por posturas
e olhares lançados de cima para baixo, com fazem os deuses do conto budista, que
ao ver um papagaio tentando apagar o incêndio que consome uma floresta, com poucas
gotas de água trazidas nas suas penas, de um rio distante, riem da tola e
ingênua ave, enquanto descansam nos seus palácios de marfim, saboreando néctar
e ambrosia.
Frequentamos grandes eventos literários,
aqueles que dão visibilidade na mídia, e lá repetimos os padrões caducos. Antes
que você comece a falar que tenho olhar de Poliana, devo dizer que olhar
crítico para o entorno é fundamental, para que a gente se dê conta do que é
preciso fazer. Mas é preciso fazer.
Sair do conforto reflexivo das cátedras e ir
para os confins do Brasil, para as Piraporinhas do Passa Quatro, com seus 2
mil, 10 mil ou 30 mil habitantes, e ver o que se faz por lá. Encarar o desafio
de hotéis sem estrela, horas de estrada além das horas de voo, para reconhecer
estas vozes, que estão atuando numa esfera mínima e insignificante para os
índices, mas que fazem a diferença, porque transformam, seja um, dois, dez
sujeitos. Lá, o artista é sim, um transformador do seu espaço pessoal e coletivo.
E, pensando quanticamente, quanto mais se dá
atenção para uma informação, mais consistente ela se torna. Ora, então que se
alimente o que edifica, o que promove a liberdade, a alegria e o bem-estar das
pessoas, e não as carências e as mazelas que são reforçadas, exaustivamente,
por formadores de opinião e pela mídia.
Cratinho de açúcar, tijolinho de buriti. Crato
tem cheiro de jasmim. Tem timbaúba no Cariri. Por lá é assim. Eles fazem a
diferença. O Sesc faz diferença, as Tinas, Ana Rosas e Magnólias fazem
diferença. Crianças atentas, participativas e aquele povo todo reunido para compartilhar
saberes e afetos, fazem a diferença. Eles transformam o mundo, ainda que seja o
seu pequeno mundo.
Conhecedoras palavras! Líricas, na verdade. Gratificante ler o seu texto, saber que das suas experiências por esse mundão você extrai os valores, as significâncias.
ResponderExcluirObrigada pela colaboração edificante. Que volte um dia desses e aproveite mais das terras de cá: Crato, Cariri,Ceará.
Um abraço bem carinhoso.
Tina.